Em 27 de outubro de 1924 Freud foi capa da Time como um dos maiores cientistas de sua época. Em 1993, a mesma revista anunciava: “Freud está morto”. De lá para cá, a psicanálise desenvolveu um interessante e controverso debate com a neurociência. Com é próprio das ciências, certas ideias, que parecem obviamente equivocadas em um momento, depois são redescobertas, assim como métodos e fatos promissores ganham e perdem relevância em razão da oscilação entre modelos concorrentes.
Uma síntese possível do atual estado do debate diria que a neurociência, menos do que refutar a psicanálise, a demonstra – conforme a opinião de psicanalistas de diferentes tendências, como Gerard Pommier e Peter Fonágy. Inversamente, pesquisadores como Eric Kandel, ganhador do Nobel, e o sul-africano Marc Solms afirmam que o método psicanalítico de tratamento pela palavra encontra fortes subsídios nas descobertas obtidas pelas novas tecnologias de neuroimagem e mapeamento cerebral.
A psicanálise não é uma teoria sobre o cérebro, mas um método de tratamento pela palavra. Não há nenhuma incompatibilidade, apenas a que é própria da ciência, para reunir achados de diferentes origens.
Mas há sempre cientistas que vivem fora de sua época, seja ela 1924 ou 1993. Ivan Izquierdo é um caso paradigmático deste tipo de burocrata da ciência que extrapola as regras do jogo científico querendo levar sua autoridade para além de onde ela foi estabelecida. Em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo, em 18 de junho, ele afirma que “a psicanálise hoje é um exercício estético, não um tratamento de saúde. Se a pessoa gosta, tudo bem, não faz mal, mas é uma pena quando alguém que tem um problema real, que poderia ser tratado, deixa de buscar um tratamento médico achando que a psicanálise seria uma alternativa”.
Uma ótima síntese de como é possível alguém que, por posição e ofício na Academia Brasileira de Ciências, deveria representar o conjunto da pesquisa efetivamente praticada no país, mas, em vez disso, deixa-se levar pelo interesse em valorizar sua própria área de investigação.
O espírito de corrupção, que domina nosso país, não é imune aos órgãos de controle e representação da ciência.
Primeiro: há um desconhecimento soberbo das pesquisas que demonstram a eficácia da psicanálise como método de tratamento, incluída entre as terapias psicodinâmicas de longo prazo.
Segundo: existe uma ignorância inaceitável com relação ao fato de que todo tratamento possui potenciais efeitos iatrogênicos, logo, a psicanálise também.
Terceiro: em defesa das terapias cognitivas, ele argumenta, na mesma matéria, que “mudar uma palavra ressignifica toda a memória”, exatamente como a psicanálise sempre postulou.
Primeiro: há um desconhecimento soberbo das pesquisas que demonstram a eficácia da psicanálise como método de tratamento, incluída entre as terapias psicodinâmicas de longo prazo.
Segundo: existe uma ignorância inaceitável com relação ao fato de que todo tratamento possui potenciais efeitos iatrogênicos, logo, a psicanálise também.
Terceiro: em defesa das terapias cognitivas, ele argumenta, na mesma matéria, que “mudar uma palavra ressignifica toda a memória”, exatamente como a psicanálise sempre postulou.