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OS HOMENS QUE NÃO AMAM AS MULHERES - Ruth de Aquino

Pode parecer incrível para muitos de nós, que vivemos em harmonia negociada com o outro sexo. Mas, no século XXI, ainda existe ódio sexista, latente ou escancarado. O que aconteceu recentemente com a publicitária paulistana Renata Gervatauskas, de 35 anos, é um triste exemplo disso. Renata escreveu um post para o blog Mulher 7x7, em epoca.com.br. Contou ter desistido de um namorado potencial ao escutar dele: “Só falta dizer que lava, passa e cozinha bem. Vai ser a mulher perfeita. Aí, eu caso”. Ela não gostou da “brincadeirinha”. Eu também não gostaria. Acharia o cara um bobo.

Em seu texto, Renata defende a licença-paternidade por seis meses, concedida recentemente no Brasil pela primeira vez a um homem que perdeu a mulher no parto. É um precedente positivo, escreve Renata: “A gente ainda confunde o instinto materno com a obrigação de cuidar sozinha das crias”. A reação da maioria dos homens internautas foi um ataque pessoal, na tentativa de humilhar as mulheres em geral. “Foi um festival de ofensas gratuitas, que serviu como espelho de uma sociedade doentia”, disse ela.

Um internauta escreveu: “Feminismo já é um lixo social, se exagerado então fede”. “Aprendam, animais”, escreveu outro. “Vocês jamais irão se igualar aos homens. Perguntem às mães solteiras e independentes de hoje, que têm por volta de 35 anos, se elas não mudariam o jeito f... e independente delas se pudessem voltar no tempo. Nós, homens, não queremos resto dos outros. Nós queremos mulheres que nos respeitem como líderes do lar.”

“Qual é o problema de a mulher de hoje fazer tarefas domésticas que o restante fez ao longo de toda a história da humanidade?”, pergunta um outro. “Vocês reclamam de barriga cheia. As mulheres não tinham máquina para lavar roupas, esfregavam tudo na mão mesmo e não reclamavam da dependência dos seus maridos, porque elas sabiam bem do papel destinado a elas. Vocês hoje só têm o trabalho de colocar sabão em pó e depois colocar a roupa no varal. Feministas: vão tomar no olho do c…”

Esses comentários, alguns feitos na covardia do anonimato e outros assumidos com o próprio nome, não fazem jus à maioria dos homens atuais, que desejam casar com uma mulher inteira e educar os filhos plenamente. Mas o ódio nessas reações explica o absurdo número de estupros, a violência doméstica, o assédio moral, ainda hoje. Explica as Eloás da vida.

Sou contra a vitimização das mulheres. Não acho as mulheres mais tristes que os homens – embora a gente reclame mais. Talvez tenhamos nos acostumado a perceber que nada cai de graça no nosso colo. Precisamos reivindicar, refletir e discutir. Não acho que o feminismo tenha traído a nenhuma de nós. Movimentos de emancipação trazem conquistas, não são um manual de felicidade, mas de liberdade. Liberdade para escolher o que é melhor para cada uma. Não somos um “blocão” homogêneo. O risco é trair a nós mesmas e aos homens, se continuarmos a criar nossas filhas como “princesinhas” e nossos filhos como “super-homens”. Esses papéis só existem na ficção, não cabem numa sociedade moderna, e definem, desde a infância, expectativas irreais para elas e para eles. Que geram frustração mais tarde.

Há 180 anos, em 1832, uma jovem do Rio Grande do Norte, Nísia Floresta Brasileira Augusta, de 22 anos, publicou Direitos das mulheres e injustiças dos homens. Ela casou aos 13 anos e abandonou o marido pouco depois. Voltou à casa dos pais. Sofreu com o estigma. Era fluente em várias línguas e instruída, num tempo em que mulheres no máximo sabiam ler e escrever. Teve dois filhos com um segundo companheiro. Um dos trechos de seu livro: “Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós nascemos para seu uso, que não somos próprias senão para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa, servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles, homens”.

Uma coisa é a mulher decidir ser mãe e dona de casa em tempo integral. Se assim é feliz, e seu companheiro também, parabéns. Sorte da mulher que, hoje, com recursos e instrução, pode decidir seu destino. Pode tentar ser bem-sucedida no trabalho, no amor e na família – um desafio duro, porém fascinante. Pode decidir quando engravidar. Pode decidir não ter filhos – e é o cúmulo que muitos a apedrejem por isso. Pode decidir não casar. Pode decidir se separar sem que a discriminem. Pode estudar, pode se apaixonar várias vezes, pode chegar à Presidência da República. É um desconsolo imaginar que ela ainda pode ser estuprada, discriminada, agredida e assassinada por homens que odeiam as mulheres.
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O HOMEM TAMBÉM É OBJETO SEXUAL - Ruth de Aquino

Amarrar e dar palmadinha excita muitos adultos. 
Se for consenso, é uma ferramenta erótica como muitas outras.

Para as heterossexuais bem resolvidas, o homem é um objeto sexual. A mulher que gosta de homem se ocupa do prazer dele, se dedica a seu corpo. Não o corpo dela, mas o corpo dele, com todos os seus mistérios. Homem também tem mistério e ponto H. Não são máquinas de produzir orgasmos. Aliás, longe disso. Eles precisam de orientações femininas para ser bons de cama. Mulher que insiste em reduzir o homem só a “provedor” – de dinheiro ou prazer, ou ambos – não faz jus ao parceiro nem a si mesma.

Cansei de ver homem reclamando de mulheres com corpos sensacionais, que se deitam na cama, se olham no espelho e ficam ali, passivas e maravilhadas consigo mesmas, à espera da adoração e ação intensiva do parceiro. Ou mulheres que apagam a luz por vergonha de suas imperfeições como se fossem pecados contra o tesão. Nada afeta mais o tesão, próprio ou alheio, do que a baixa autoestima. 
E isso a personagem do livro e do filme, Anastasia Steele, tem de sobra. “Sou desastrada, malvestida e não sou loura” (!).

Outra incompreensão que se escuta nas conversas é a do recurso, interessante, do sadomasoquismo nas relações sexuais. No telão, o sadomasô excessivamente estético é ainda mais enfraquecido, por ficar muito aquém das fantasias. Como se sabe, o roteiro o transforma em contrato, como esses submetidos ao RH, com cláusulas e multas. Perde assim seu fator X: a imprevisibilidade, o frescor, a transgressão.

Nos ambientes acadêmicos ou feministas hard, surgiu agora uma discussão equivocada, fora do tom. Nos Estados Unidos, há um “movimento” para doar US$ 50 a abrigos de mulheres espancadas ou violentadas em vez de gastar para ver o filme. Gail Dines, professora de sociologia no Wheelock College, de Boston, diz que o filme glorifica relações de abuso.

“A história mostra um predador sexual sádico que persegue uma mulher bem mais jovem e abusa dela”, afirma a socióloga. “É um conto de fadas no sentido de não ser real, mas, na realidade, é uma história de terror vivida por muitas mulheres.” Hello! Que exagero. Nem essa importância o roteiro tem, a meu ver. Amarrar e dar palmadinha excita muitos adultos e, se for consenso, de brincadeira, sem machucar, torna-se uma ferramenta erótica como tantas.

O BSM – “b” de “bondage”, ou seja, de “amarrar” – está presente na vida ou nos sonhos de muitas mulheres, suas vizinhas ou companheiras ou colegas de trabalho ou parentes próximas, mesmo que seja sexualmente incorreto. Lamento que haja tanto desconhecimento ao se generalizar o desejo feminino – e o masculino também. Falta conversa, falta abertura, falta ousadia e sobra repressão nas relações de nosso cotidiano.

O livro é um fenômeno mundial. Vendeu mais de 100 milhões de exemplares em 52 línguas. Normalmente, livros são melhores que suas adaptações, pela profundidade e caracterização dos personagens. Mas, num livro tão ruim com diálogos tão melosos, a linguagem visual e resumida do cinema poderia produzir algo mais quente e visceral. Não foi possível. O filme segue rigorosamente a receita de sopão de clichês e a falta de sexo explícito.

A mocinha morre de excitação no filme quando morde o lábio inferior. O mocinho não permitiu nu frontal. Aaaahhh, que peninha. A desculpa oficial é que o ator é casado e acaba de ser pai pela primeira vez. Minha especulação é que talvez a cena decepcionasse as fãs do metido a garanhão Christian Grey, porque a gente sabe que, nas fantasias femininas, tamanho é documento.

Para sair molhadinha, só se cair uma chuva daquelas no fim da sessão e você estiver sem casaco impermeável. O que seria, ao menos, uma boa novidade em tempos de seca – digo seca líquida, falta de água, não de homem. Abram os olhos, moças, os homens estão por aí e, felizmente, não são bobos como o Christian Grey.
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QUEM ERA "ESSA MARIELLE"? - Ruth de Aquino

Com nome quase francês, mistura de Maria com ‘elle’, 
estampa poderosa, o cabelo afro e a fala potente,
 reunia num só corpo e numa só cabeça 
todas as definições de minorias.

Afinal, quem era essa vereadora favelada, essa mãe bissexual, essa defensora de direitos humanos, essa negra que condenava grupos policiais de extermínio de jovens? Quem Marielle pensava que era?

Por mais combativo que fosse seu discurso, por mais cativante que fosse seu sorriso, por mais que tivesse a legitimidade de 46 mil votos, ela não poderia prever essa comoção nacional se fosse morta. Ela não suspeitava de nada, nem de uma emboscada nem da apropriação de seu nome como bandeira. No Rio, no Brasil, no mundo.

Por que sua morte prematura, aos 38 anos, com tiros na noite à queima-roupa, disparados por covardes, encomendados por mais covardes ainda, faria chorar uma cidade já embrutecida pela violência que dizima mais de seis mil vidas por ano? Faz sentido? Esse choro todo por causa de Marielle, que nasceu na Maré. Esse nó na garganta. Essa indignação toda. Os aplausos para um caixão de #MariellePresente. Esses punhos erguidos, de mais resistência que raiva.

Quem era mesmo essa Marielle? De repente, mártir? Por que a dor por sua perda é mais intolerável? Ah sim. Por ser um crime político. Não só. A juíza Patricia Acioli foi morta na porta de casa com 21 tiros, em Niterói, também alvo de uma emboscada. Em 2011. Investigava milícias de São Gonçalo. Foi um crime político. Mas não levou multidões às ruas como a vereadora Marielle.

Ah sim, por ser negra e da favela. Não só. Quantas mulheres negras, mães, pobres, são assassinadas, por bandidos, por policiais, por balas perdidas, por maridos, amantes e ex, e são choradas apenas por parentes? Quantas policiais negras são assassinadas em confrontos e assaltos?

Ah sim, porque Marielle defendia direitos humanos, e isso incomoda muito. Não só. Segundo a Anistia Internacional, 62 defensores de direitos humanos foram mortos no Brasil, entre janeiro e setembro de 2017. Você lembra alguns nomes? Provavelmente não. Mas, duas horas após a morte de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes, eram registrados 594 tuítes por minuto sobre o duplo crime. Mais de um milhão de menções no Twitter até a tarde de ontem.

Quem Marielle pensava que era? Não pensava. Agia, tinha pressa, engravidou na adolescência, uma amiga morreu de bala perdida, ela conseguiu bolsa na PUC, fez Sociologia. Mestrado em Administração Pública, com dissertação sobre as UPPs. Quantos concluem mestrado no Brasil? Marielle estudou a si mesma e a sua realidade carente de tudo. Casou com uma mulher.

Com esse nome quase francês, uma mistura de Maria com “elle”, a estampa poderosa, o cabelo afro e a fala potente, Marielle reunia num só corpo e numa só cabeça todas as definições de minorias. Gênero, cor, orientação sexual e ideologia política. Era mais conhecida entre os militantes à esquerda da esquerda no Rio. Mas nem isso definiria Marielle. Suas fronteiras eram globais. Daria uma palestra em Harvard no dia 7 de abril, sobre renovação política.

Marielle não poderia imaginar que sua morte brutal polarizasse tanto as redes. Houve quem a acusasse de “defender bandidos, ter ligação com o Comando Vermelho e passar a mão na cabeça de vagabundos”.

Esse pessoal, que vai votar em a gente sabe-quem, não entende o significado de se silenciar uma voz parlamentar com uma pistola. Não entende que não se trata de mais um episódio de violência urbana. Nem de feminicídio, nem homofobia, nem racismo. Trata-se de nós. De cada um. De liberdade, igualdade e fraternidade.

Eu estava em Paris quando houve o atentado terrorista ao Charlie Hebdo, em janeiro de 2015. Multidões que jamais tinham lido o jornal, ou que não curtiam seus cartuns polêmicos e o humor ácido, encheram as ruas de Paris, foram para a Catedral Notre Dame com velas acesas. Todos os parisienses se sentiram atingidos nos valores da República. Fui para a rua, empunhando lápis como os manifestantes, para gritar #jesuischarlie. Em defesa da minha condição de cidadã do mundo, em defesa da liberdade de expressão que nos garante como jornalistas.

Que a morte de Marielle seja um divisor entre as águas turvas e as transparentes.

Que sejam identificados e punidos não só quem atirou mas quem mandou matar Marielle.

Que o Brasil possa fazer jus a si mesmo como uma nação que recusa a barbárie.

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O TEU CORPO PERTENCE A ALGUÉM? - Ruth de Aquino

Andava com o namorado pelo bairro grafitado de Palermo, em Buenos Aires, quando me deparei com esta frase num muro.

E pensei: não está aí a base de tantas separações?

Você acha que teu corpo pertence a alguém?

Alguém acha que teu corpo pertence a ele (ou a ela)?

Você se sente dono ou dona do corpo de outra pessoa?

O que significa, no íntimo, a necessidade de posse do corpo alheio?

Ciúme é um sentimento usado para disfarçar outros mais inconfessáveis. Insegurança? Medo? Complexo de inferioridade?

O teu beijo ‘caliente’ em um amigo é diferente do beijo dele em uma amiga? O teu é divertido e inocente mas o dele é uma traição?

A posse do corpo é apenas uma metáfora para dizer que, quando amamos, queremos ser o único objeto de desejo e carinho da outra pessoa?

Estamos preparados, todos e todas nós, para desejar uma única pessoa e doar nosso corpo e alma em vida a um único parceiro ou parceira?

É mais fácil ou mais difícil ser fiel quando sentimos que não “pertencemos” a alguém e temos a liberdade de escolher estar com um só sem transformar isso num trato bilateral assinado em cartório doméstico?

Eu sou tua. Mas só se você for meu. 
Por inteiro, viu? Até nas gotículas da imaginação.

7 MOTIVOS PARA AMAR UMA CIDADE - Ruth de Aquino

O que é uma cidade? Não existe definição ideal. A cidade sou eu, é você. Se é o lugar onde se dorme, acorda, trabalha, caminha e trafega, onde se ama, briga e morre, a cidade é bem mais que um amontoado de concreto e verde - é uma experiência de bem-estar ou mal-estar. Alguns se tornam reféns de sua cidade, sequestrados por circunstâncias profissionais, financeiras e familiares. Alguns vivem onde desejam. É aí que os defeitos da cidade incomodam como traições de mulher amada. Só nós podemos criticar - forasteiros não. Cito dois pensadores visionários de cidades. 

Um é o inglês Ebenezer Howard (1850-1928), autor de Cidades-jardins de amanhã, em 1898: No século XIX, ele já se preocupava com ar fresco, água, superpopulação e migração do campo. Criou modelos de cidades utópicas, com vantagens urbanas e suburbanas, que significavam"uma nova esperança, uma nova vida, uma nova civilização". Howard perguntava:"Para onde as pessoas irão?". Uma questão mais atual que nunca.

Outro pensador é o americano Lewis Mumford (18951990), que publicou em 1961 A cidade na história. Seus maiores medos eram o império do automóvel e a megalópole. Para Mumford, a cidade gigante ameaçava a saúde, a dignidade, os valores comunitários, ambientais e espirituais da população. "Antigamente", dizia ele, "a cidade era o mundo, hoje o mundo é uma cidade".

O arquiteto e urbanista premiado Luiz Carlos Toledo listou "7 motivos para amar uma cidade":

1. Amo as cidades que sabem se reinventar, como o Rio de Janeiro, que deixou de ser a sede tropical da corte portuguesa, capital do império e da república e, graças a Deus, capital cultural do Brasil, título careta e equivocado num país cuja diversidade cultural não respeita território e dispensa uma capital. O Rio soube transformar uma decadente Lapa em polo de atração capaz de arrancar os jovens da Barra da Tijuca de seus condomínios para se divertir com outros jovens, do resto da cidade, nas rodas de samba e chorinho. Soube resgatar o carnaval de rua, fazendo do Centro e de cada bairro passarelas tão ou mais atraentes que o Sambódromo globalizado.

2. Amo as cidades que têm esquinas e, principalmente, quando ocupadas por padarias e botequins, para a gente ouvir pela manhã o balconista gritar:"Salta uma média no copo e um pão na chapa". À noite, na volta para casa, uma rápida parada no boteco predileto, jogando conversa fora com um cara que você nunca viu antes, ouvimos deliciados e com sotaque lusitano: "Salta uma gelada que o freguês tem pressa".

3. Amo as cidades amigáveis, que tratam bem habitantes e visitantes e onde, num único quarteirão, a gente possa encontrar quase tudo. Amigável com crianças, velhos e namorados, que dispõem de uma pracinha perto de casa. Com os visitantes, pela gentileza da população e por uma sinalização urbana feita para evitar que qualquer um se perca. A cidade amigável nos salva do ataque de flanelinhas, motoristas de vans e taxistas inescrupulosos, garçons e vendedores mal-humorados, que adoram errar no troco, falsos guias turísticos e toda a sorte de gente capaz de fazer um turista jurar que nunca mais bota os pés ali.

4. Amo as cidades com entretenimento para todas as idades, independentemente de quanto temos no bolso. Se der sorte de a cidade ter praia, metade do problema está resolvido. Parques, museus, centros culturais, bibliotecas e shows devem oferecer entrada franca. Amo as cidades com locais para confraternizar a céu aberto.

5. Amo as cidades que preservam da ganância dos especuladores as suas montanhas, matas, praias, lagoas, florestas, seus parques e manguezais. Onde o ar se respira, e a poluição não nos sufoca nem nos adoece.

6. Amo as cidades que respeitam sua história e sua arquitetura e, por isso, se tornam donas de uma força misteriosa que faz com que moradores, até os mais cosmopolitas, relutem em se afastar, apegados aos bairros onde vivem, às paisagens conhecidas, aos prédios e monumentos e também às praças, ruas, travessas e becos, repletos de significados.

7. E amo, sobretudo, as cidades inclusivas, onde todos possam exercer sua cidadania. Uma cidade onde crianças não oferecem balas e, fazem malabarismos a cada sinal de trânsito, porque estão brincando em casa ou estudando nas escolas. Uma cidade sem moradores de rua e, se os tiver, que garanta a eles compreensão, abrigo e oportunidade. Onde nenhum trabalhador perca horas preciosas para chegar ao emprego. Onde os donos das ruas não sejam os carros particulares, mas o transporte público de qualidade. Onde a divisão entre morro e asfalto só exista na lembrança dos mais velhos ou nos livros de história, para não esquecer como é triste e perigoso viver numa cidade dividida. Onde os governantes saibam ouvir e governem para todos, discretamente. E que tenham horror às obras suntuosas.

ADOLESCENTES ATÉ QUANDO - Ruth de Aquino

Quanto mais se preparam, 
menos eles se sentem 
aptos a viver como gente grande

A adolescência agora vai até os 25 anos – e não apenas até os 18, como era previsto. Essa é a nova orientação dada a psicólogos americanos. É como se a neurociência pudesse eximir a todos de responsabilidade por um fenômeno deste século: jovens demoram muito mais a amadurecer, sair de casa e ser independentes. 

As pesquisas revelam que “a maturidade emocional de um jovem, sua autoimagem e seu discernimento são afetados até que o córtex pré-frontal seja totalmente desenvolvido”. E isso só acontece aos 25 anos.

Então o culpado é o córtex? Não é por falta de esforço dos filhos. Nem por superproteção dos pais. Tampouco é porque a competitividade exige mais estudos e especializações. Quanto mais eles se preparam, menos se sentem aptos a viver como gente grande. Por uma mistura de insegurança pessoal, liberdade e mordomias na casa dos pais, muitos jovens se paralisam, especialmente nas famílias de classe média para cima, no Brasil. Não é “qualquer trabalho” que os realizará. 

Criticam os pais. Acham que eles fizeram concessões demais à sobrevivência e à prole: “Quem mandou vocês darem tudo para mim?”.

Antes, era diferente. Aos 18 anos, os cinquentões de hoje só pensavam em sair da casa dos pais. Era preciso ter um emprego, não necessariamente o dos sonhos. Bastava que o salário fosse suficiente para não depender de pai e mãe, alugar um quarto e sala, poder dormir com o namorado ou a namorada, chegar tarde em casa. Se o emprego se relacionasse aos estudos, que privilégio! Almejávamos múltiplos destinos, mas não havia tempo nem grana para experimentar primeiro e decidir depois. Ralávamos a alma para ascender rápido. Só soube agora que meu córtex pré-frontal não estava totalmente desenvolvido quando saí de casa aos 21 anos. Se me chamassem de adolescente, me sentiria ofendida.

“A ideia de que de repente, aos 18 anos, a pessoa já é adulta não é bem verdade”, disse à BBC a psicóloga infantil Laverne Antrobus, da Clínica Tavistock, em Londres. “Minha experiência com jovens sugere que eles ainda precisam de muito apoio e ajuda além dessa idade.” Diante da extrema condescendência com quem tem 18 ou 25 anos, penso em quem tem 60 ou 80. 

Não sei em que idade o ser humano pode prescindir de apoio ou ajuda. Dos pais, filhos, parceiros e amigos.

“Amadurecer é um termo complexo, e sabemos que não se limita à independência financeira”, diz a psicanalista Eliane Mendlowicz. “Crescer, dar adeus à proteção dos pais, enfrentar um certo desamparo é uma tarefa árdua, mas vale a pena por seu efeito libertador.” Mesmo assim, trintões e trintonas continuam na casa de papai e mamãe.

“Frequentemente se apontam razões econômicas para esse fenômeno”, diz o professor de sociologia Frank Furedi, da Universidade de Kent, na Inglaterra. “Mas houve também uma perda da aspiração por independência. Quando fui para a universidade, se fosse visto com meus pais, decretaria minha morte social.”

Muitos pais financiam filhos casados. Não é raro que filhos divorciados voltem a morar com o pai ou com a mãe. São chamados de “filhos bumerangues”. “Há também os pais que estimulam o comportamento infantil dos filhos para evitar o ‘ninho vazio’”, diz Eliane. Outros, que acreditavam ter criado o filho para ser independente, reagem com sentimentos que se alternam: resignação, preocupação, irritação e perplexidade. O que deu errado?

“Os pais desejam que seus filhos sejam lindos, magros, inteligentes, carismáticos, felizes, competentes, amados. E o que querem os jovens hoje? Buscam aflitos uma maneira de cumprir tantos ideais”, diz a psicanalista Gisela Haddad. Para ela, essa geração precisa encarar um fato: “O futuro está em aberto, e tudo pode ser possível”.

Paradoxalmente, isso tem causado, segundo Gisela, pânicos, depressões, vícios em drogas.

Uma pesquisa com mais de 2 mil entrevistados entre 18 e 30 anos, em seis capitais do Brasil, mostrou que 70% não se sentem preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Culpam a universidade por não oferecer aulas práticas e não orientar para o empreendedorismo. Sempre foi assim. A universidade nunca formou profissionais prontos.

A legislação tenta se adequar aos novos tempos. Em agosto, o Senado aprovou projeto que aumenta o limite de idade para dependentes no Imposto de Renda dos atuais 21 para 28 anos, ou mesmo 32, quando cursarem universidade ou escola técnica.

O córtex tem pouco a ver com isso. Como diz o psiquiatra Luiz Alberto Py, “o amadurecimento cortical é perfumaria, apenas um álibi”. 

A adolescência é cultural, depende do país e da sociedade. O fenômeno fisiológico é a puberdade. “Crianças de rua não têm adolescência, só puberdade. Rapidamente se tornam adultos.”

Prolongar a adolescência além dos 18 anos é prolongar a angústia. O jovem não é tão despreparado quanto teme. Nem tão brilhante quanto gostaria.

EIKE BATISTA, NEM SANTO NEM DIABO – Ruth de Aquino

Eike hoje paga pela ostentação, pelos carrões, jatinhos, barcos e botox. 
O povo não perdoa ricos exibidos.

Eike Batista uma hora vai delatar. Não por maldade ou vingança. Não para crucificar a enorme lista de políticos que ele beneficiou, à vista de todos ou por baixo da mesa. Vai delatar porque nenhum empresário famoso consegue se manter “foragido da Interpol” por muito tempo, mesmo com passaporte alemão.

Vai delatar porque o ex-homem mais rico do Brasil, pai de Thor e Olin, ex-marido de Luma, se recusará a ser trancafiado em cela comum de presídio. Eike não concluiu o ensino superior de engenharia na Alemanha e, por isso, sem diploma, não tem direito a regalias. É o X do problema. Falência financeira, tudo bem, Eike já se reergueu com saídas mirabolantes. Falência moral é outra coisa para o filho do nonagenário Eliezer Batista.

Eike não se enxerga como chefe de quadrilha criminosa. Seus amigos e ex-funcionários tampouco o viam assim. Muitos ganharam e perderam dinheiro embarcando em seus delírios. Louco, visionário, audacioso, megalômano, empreendedor, místico e generoso – e até cafona e ingênuo – são adjetivos mais associados a Eike do que “bandido” ou “mau-caráter”, segundo quem o conhece bem. Era “mão-aberta”, não só em troca de incentivos fiscais. Não fazia segredo de sua carência maior: ser amado, especialmente no Rio.

Acusado de repassar e ajudar a esconder propina de US$ 16,5 milhões – um pingo no oceano que inundou as finanças do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral –, Eike é o alvo da hora da Operação Lava Jato. Mesmo antes de ter mandado de prisão preventiva contra ele, Eike já despertava misto de ódio e inveja. Era o 171 mais bajulado e contraditório do Brasil, recebido como Midas por banqueiros do mundo.

Hoje paga pela ostentação, pelos carrões na sala de sua casa no bairro do Jardim Botânico, os jatinhos, os barcos de corrida, os implantes de cabelo e Botox. Paga pela insistência em prever, com seu riso estranho, que se tornaria o homem mais rico do mundo. O povo não perdoa ricos exibidos.

O que me surpreende é que seus amigos não tenham coragem de vir a público defender seu outro lado. Uma vez testemunhei, no restaurante chinês Mr Lam, de sua propriedade, os efeitos de sua personalidade. O trabalho parecia ser sua maior diversão. Seus convidados, um bando de empresários orientais, só faltavam beijar seus pés. Ao longo de sua ascensão, vimos alguns admiradores ferrenhos de Eike.

“O Eike é nosso padrão, nossa expectativa e orgulho do Brasil”, afirmou a então presidente Dilma Rousseff na inauguração do Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense. Para Dilma, Eike tinha “capacidade de trabalho”, buscava “as melhores práticas”, queria  “tecnologia de última geração”, percebia “os interesses do País” e merecia “o nosso respeito”.

Eike arrematou por R$ 500 mil o terno usado por Lula na primeira posse de janeiro de 2003. Era um leilão beneficente promovido pelo cabeleireiro da então primeira-dama, Dona Marisa, para arrecadar dinheiro para crianças do projeto Escola do Povo, na favela de Paraisópolis, em São Paulo.

Eike fez Madonna chorar, num jantar íntimo no Rio em sua casa, ao dar R$ 12 milhões para a Fundação SFK (Success for Kids), que ajudaria crianças brasileiras e suas mães vítimas de violência. Eike deu para a Santa Casa da Misericórdia um aparelho de ressonância magnética que custou quase US$ 2 milhões. “Todo mundo pede socorro ao Eike. Daqui a pouco vão ter de fazer uma estátua dele de braços abertos no alto de um morro”, afirmou o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho.

Uma vez, caminhando no Morro do Borel com o ex-secretário de Segurança José Mariano Beltrame, perguntei sobre o acordo entre o governo do estado e sete grandes empresários que criaria um fundo para infraestrutura nas favelas ocupadas. “Só o Eike Batista honrou esse acordo”, disse Beltrame. “Ele contribui com R$ 20 milhões por ano.” A sede azul e branca da UPP exibia carros reluzentes. “Viu as camionetes?”, perguntou Beltrame. “Todas compradas com a ajuda do Eike. As motos para coleta de lixo também.”

O ator Rodrigo Santoro disse que o apoio financeiro de Eike foi “o fator decisivo” para que o filme Heleno de Freitas acontecesse. Eike ajudou Arnaldo Jabor a financiar A suprema felicidade, ajudou Cacá Diegues a realizar Cinco vezes favela. Nunca vimos antes no Brasil um pilantra com essas conexões.

Eike começou comprando ouro no Xingu aos 22 anos, magrelo, com botas e chapéu. Terminou vendendo ilusões e pasta de dentes – seu negócio mais recente. Dizia, no auge, que seu sonho era nadar “numa Lagoa Rodrigo de Freitas limpa” e por isso deu milhões para a despoluição-fantasma. Seu pesadelo agora é a cela comum de Bangu.

A EDUCAÇÃO ROUBADA - Ruth de Aquino

Todo mundo hoje quer saber onde está Amarildo. Mas também quero saber onde foram parar 40% dos gastos municipais com Educação, desviados por corrupção e incompetência de prefeitos e assessores. Explicando melhor: um estudo de técnicos da Secretaria do Tesouro mostrou que quase metade dos recursos liberados para valorizar professores e equipar escolas não chegou a seu destino. Vamos entender o drama: dos R$ 55 bilhões destinados ao ensino nos municípios, R$ 22 bilhões foram desperdiçados.

Onde estão os bilhões da Educação? Enterrados na vala comum das fraudes e do roubo da verba pública? Onde está o cemitério clandestino da grana que, no fim das contas, sai de nosso bolso em forma de impostos e se destina a um fim nobre? Por que o governo da presidente Dilma Rousseff e os parlamentares não se indignam com esse escândalo que mina nosso desenvolvimento humano e prejudica o resultado do Fundeb - um fundo criado em 2006 para desenvolver a educação básica e valorizar os educadores? Dos 180 municípios fiscalizados entre 2011 e 2012 por técnicos e analistas, mais de 70% apresentaram irregularidades de todo tipo. Licitações simuladas. Falhas de execução de contratos. Despesas incompatíveis com os objetivos do programa.

Saques suspeitos na boca do caixa, logo antes de o prefeito tomar posse. Superfaturamento. Depósito do dinheiro em aplicações financeiras. Remuneração de professores abaixo do piso nacional do magistério. Essa auditoria tem o aval da Controladoria-Geral da União.

A sensação é que os ratos proliferam sem controle entre os políticos. Precisamos de uma multidão de fiscais - e que esses fiscais sejam honestos. Os impostos não param de subir, sob pretexto de melhorar serviços essenciais. Quando a presidente Dilma, aconselhada por Sua Eminência Lula, sugerir a reedição da CPMF para a Saúde e talvez para a Educação, primeiro os contribuintes brasileiros terão de se insurgir com faixas imensas: "Onde foram parar nossos impostos?", "Tapem os ralos de nosso dinheiro!" "Moralizem as contas públicas!" Nas duas últimas décadas, de 1991 a 2010, tivemos conquistas imensas no número de crianças na escola. Hoje, estão matriculados no ensino fundamental 98% das crianças e dos adolescentes entre 7 e 14 anos. É um avanço elogiável. Não foi de graça. A Educação se tornou oficialmente uma bandeira dos governos e passamos a pagar mais impostos. A arrecadação aumentou de 24% do PIB, no início da década de 1990, para 36%, em 2013. Já está claro, porém, que números, sozinhos, não ajudarão o Brasil a entrar no clube dos países desenvolvidos. Terminar o ensino fundamental sem saber ler direito nem fazer conta é uma enganação.

É muito difícil falar em desenvolvimento humano sem falar em qualidade da educação", disse ao jornal O Globo Priscila Cruz, diretora do Todos pela Educação, ONG que reúne empresários e educadores. "Não queremos voltar à situação em que só uma minoria estava na escola e aprendia. Agora a maioria está e não aprende." Nossa tentação é ser otimista. Melhoram os indicadores de renda, a quase universalização do ensino é um fato. Ótimo. Mas tudo vai devagar demais. Mais da metade dos brasileiros de 18 a 24 anos não tem o ensino médio. Vale repetir: estamos no ano 2013, e quase 60% de nossos 22,5 milhões de jovens adultos, no auge de sua capacidade, só terminaram o ensino fundamental. Isso significa que 13,2 milhões de jovens (um número bem superior à população inteira da Bélgica) têm apenas noções básicas de português, matemática, história, geografia e ciência, além de uma imensa dificuldade para entender o mundo e se integrar ao mercado de trabalho.

Com as ruas tomadas por protestos de jovens, nosso Congresso volta do "recesso branco" de julho com ideias incendiárias: criar mais tribunais, inchar a máquina do Estado e promover uma reforma eleitoral que diminua as punições a partidos e candidatos e derrube restrições às doações. Perderam definitivamente a noção de tudo. Deputados e senadores voltaram das férias já enforcando quinta e sexta, porque ninguém é de ferro. "A gente quer voltar já voltando", disse o vice-presidente da Câmara, André Vargas. "Um ou dois dias não fazem diferença." Então tá.


Por essas e outras, não entendo por que pesquisadores de vários países virão ao Rio de Janeiro no dia 6 de agosto para o Congresso de Múmias, no Museu Nacional. São esperados mais de 100 especialistas, envolvidos no estudo de corpos mumificados, no primeiro evento do tipo realizado no Brasil. Erraram de sede. O Congresso de Múmias fica em Brasília.

O REAL ABUSO DE AUTORIDADE – Ruth de Aquino

Precisamos impedir que abusadores compulsivos na política 
se unam para se livrar da lei e frear a Lava Jato

Você abusou, tirou partido de mim, abusou. Que me perdoem se eu insisto neste tema, tão bem interpretado por Toquinho e Vinícius, mas tão vulgarizado em Brasília e nos estados. Não dá para fugir dessa questão, crucial para o futuro. Vocês abusaram, tiraram partido do povo iludido que hoje anda à míngua.  É preciso continuar a passar a limpo a sujeira e impedir que bandidos engravatados se façam de vítimas.

Precisamos impedir, como sociedade organizada, que abusadores compulsivos se unam para se livrar da lei. Só assim se fará uma reforma política. Para atrair novas cabeças, é necessário que rolem as cabeças contaminadas pela propina e pelo abuso de poder. Bilhões de reais roubados têm de voltar aos cofres públicos. Quando servidores do estado do Rio de Janeiro recebem 13º atrasado, com dinheiro surrupiado por Sérgio Cabral, a Lava Jato alcança seu objetivo mais nobre. Teve servidor que chorou. Teve servidora que compôs versos. Usaram o dinheiro para quitar dívidas.

Na discussão de quem abusa e quem sofre abuso de autoridade, é sintomático que dois dos principais personagens sejam o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-presidente do Senado Renan Calheiros – nossas duas Casas no Congresso. Cunha foi condenado na quinta-feira na Lava Jato a 15 anos e quatro meses de prisão. Renan esperneia para não ter um dia o mesmo destino. Ambos se dizem vítimas de juízes e procuradores, após trair durante anos seus eleitores e suas histórias de vida.

“A responsabilidade de um parlamentar federal é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes. Não pode haver ofensa mais grave do que a daquele que trai o mandato parlamentar e a sagrada confiança que o povo nele depositou para obter ganho próprio.” É o que diz a sentença do juiz Sergio Moro contra Cunha. Moro é considerado por políticos suspeitos o abusador-mor, o justiceiro.

Cunha foi condenado por lavagem de dinheiro, corrupção e evasão de divisas. Seu dinheiro na Suíça será confiscado. O ex-todo-poderoso presidente da Câmara responde a mais duas ações criminais e quatro inquéritos. Acusa Moro de parcialidade política e diz ser “o troféu” do juiz. Mesmo em prisão preventiva, Cunha elucubrava ações de “extorsão, ameaça e chantagem” na busca a aliados, segundo a sentença. Falou tão mal dos delatores que, daqui a pouco, não conseguirá, mesmo que queira, virar delator. Não restará mais nada nem ninguém a denunciar.

Renan, réu no Supremo Tribunal Federal por desvio de dinheiro, alvo de 11 inquéritos e um dos nomes da “lista de Janot”, tenta não se tornar Cunha amanhã. É autor do projeto de abuso de autoridade em tramitação no Senado. Sua missão é torpedear a Lava Jato antes de perder a capacidade de se reerguer. A intenção de Renan não é nada republicana. A exemplo de Cunha, Renan apela para a intimidação à Justiça, ao Ministério Público e à Polícia Federal. O propósito é salvar sua pele e a de colegas.

O PT e o PMDB, que se consideram perseguidos pela Lava Jato, não esperavam que o primeiro partido a ser denunciado formalmente pelo Ministério Público Federal fosse o PP (Partido Progressista), de centro-direita. Na ação de improbidade aberta na quinta-feira, dez políticos do PP foram acusados de receber de R$ 30 mil a R$ 300 mil por mês por mais de sete anos. Tudo vindo de contratos da Petrobras, a mãe da propinagem. A Justiça quer a devolução de R$ 2,3 bilhões que teriam sido roubados pelos “progressistas”. A resposta do PP é padrão: “Todas as doações foram legais e devidamente declaradas e aprovadas”. É um escárnio.

A guerra tem de ser suprapartidária. O governador do Pará, Simão Jatene, do PSDB, foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral por abuso de poder político. O governador de Goiás, Marconi Perillo, também do PSDB, foi denunciado por corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República. Teria recebido a “mixaria” de R$ 90 mil de propina da construtora Delta. Hoje só é surpresa quando o valor fica abaixo de milhões.

No Rio de Janeiro, foram presos cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, delatados por Jonas Lopes, ex-presidente do TCE. O papel dos conselheiros é analisar as contas públicas. Esses analisavam Sérgio Cabral. No TCE, não se entra por mérito. Os conselheiros são nomeados pelos mesmos políticos que devem ser fiscalizados e os cargos são vitalícios.

O “dono do Rio” e presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, do PMDB, que já foi levado à força para depor, acusado de organizar os pagamentos ilícitos aos conselheiros. O “padrinho” Picciani fez um discurso conclamando sua inocência. Não convenceu. Vocês abusaram. Tiraram partido do povo. Abusaram.
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VOCÊ É INFIEL? - Ruth de Aquino

Não quero saber se você dorme com outros. 
Você é fiel a seus ideais?
Ou você trai suas convicções para levar vantagem na vida?

Pela primeira vez o Ministério Público Federal entrou na Justiça para cassar os mandatos de 13 deputados federais que trocaram recentemente de partido.

Acho isso uma palhaçada.

Não que eu ache lindo o troca-troca desembestado. Mas há tantos motivos mais sérios para cassar um deputado no Brasil do que ele pular para outra sigla com a qual se identifique mais!

Diante da promiscuidade na política brasileira, com alianças oportunistas entre partidos, nepotismo à vontade, corrupção premiada com cargos, figuras reabilitadas por encenações bizarras – como o aperto de mãos entre Lula e Maluf –, siglas que nada têm a ver com seu credo e legendas que traem as promessas a seus eleitores...diante de tudo isso, a decisão do procurador geral da República, Rodrigo Janot, de pedir a perda de mandato desses 13 “infiéis”, parece descabida e fundamentalista.

Segundo o MP, existem critérios para aceitar a infidelidade partidária. O compromisso do até que a morte nos separe funciona assim: se o político trocar por um partido que acabou de ser criado, pode. Se estiver sendo perseguido por seu próprio partido, também pode namorar outro.

Entendo que o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Wanderley, diga que “o mais desejável”, para haver consistência no processo político, é que “o dono do mandato seja o partido”. Mas os partidos brasileiros se tornaram uma sopa de letrinhas que sambam ao sabor das vantagens eleitorais (ou até financeiras). Sou mais a visão de Emil Sobottka, cientista político e professor da PUC do Rio Grande do Sul: “A questão é que os partidos têm feito pouco para fortalecer a fidelidade tanto do eleitor quanto do político”.

Se um deputado se sente traído por seu próprio partido, o que faz então?
O que o procurador mais deseja controlar é que o deputado burle a lei partidária indo para uma nova sigla (justa causa de infidelidade) para depois se transferir de mala e cuia para uma sigla já consolidada. Eles chamam essa manobra de “escala”.

O troca-troca partidário é tão comum no Legislativo que só neste ano de 2013, 67 deputados federais e três senadores trocaram de legenda. Ninguém reclamou porque um dia é da caça e outro dia é do caçador. Uma hora você é traído, outra hora você rouba o político do partido adversário. Fica eles por eles, elas por elas.

Vários deputados na mira do procurador Janot dizem que sofriam perseguição em seus partidos. Uma espécie de assedio moral. Eram boicotados e jamais sairiam do lugar em que estavam. Entre eles, um aliado de Marina, Alfredo Sirkis, que ajudou a fundar o Partido Verde. “Permaneci no PV por 27 anos”. Depois da saída de Marina Silva, nas eleições de 2010, Sirkis teria começado a se sentir um indesejável entre os verdes. E, agora, dirigentes do PV teriam dito a Sirkis que a legenda não está mais a seu dispor para as eleições de 2014. Por isso, ele se filiou ao PSB do governador Eduardo Campos. Se a história é esta, manter fidelidade ao PV seria masoquismo.

No fim, tudo isso não dará em nada. Parece um factoide, destinado a desviar a atenção de questões realmente importantes. Os engravatados no Congresso – que um dia Lula, ainda fiel a seus ideais, chamou de “os 300 picaretas” – ganham excepcionalmente bem, mas, entre recessos e férias, não conseguem fazer uma reforma política que reabilite a confiança da população nos partidos políticos.

Para ser fiel às legendas, é preciso que os partidos mantenham um mínimo de coerência com seu programa. De que adianta jurar fidelidade se não dá para respeitar o parceiro, num país em que o próprio ex-presidente se considera uma “metamorfose ambulante”?

NOSSA GUERRA PARTICULAR - Ruth de Aquino

 O que vemos não são apenas assaltantes armados.
São homicidas que saem para roubar.

Um tiro na cabeça, à queima-roupa, na hora do almoço, sob um sol deslumbrante de inverno, num dos bairros mais nobres e bucólicos da Zona Sul carioca, a Gávea, chocou e enlutou a elite do Rio de Janeiro. Sepultou-se ali a ilusória sensação de segurança criada pelo policiamento ostensivo na Copa, com soldados camuflados a cada esquina.

Maria Cristina Bittencourt Mascarenhas, 66 anos, conhecida por todos como Tintim, seu apelido de infância, acabara de sacar R$ 13 mil no banco para pagar a seus funcionários. Foi vítima de mais uma “saidinha de banco”, expressão quase terna que não traduz a covardia do crime, uma praga no Brasil. Tintim era sócia e anfitriã de um bistrô tradicional e simpático, o Guimas, fundado por duas famílias em 1981, que mistura as cozinhas francesa, portuguesa e brasileira. Ali sempre se comeu bem sobre toalhas quadriculadas, cobertas por papéis brancos descartáveis, onde crianças e adultos desenham, com lápis de cera coloridos, algo para alimentar o papo.

Dois homens numa moto a atacaram no curto caminho para o restaurante, um com capacete, o outro sem. Um chegou por trás, passou o braço pelo pescoço dela e gritou “passa a bolsa”. Tintim, mãe de três filhas e avó, querida na rua pelo sorriso e pela gentileza, segurou a bolsa por instinto e foi executada, com uma bala na têmpora. O assassino pegou o dinheiro, fugiu com o comparsa na moto. A vítima ficou ali, morta na poça de sangue, junto a botecos onde muita gente comia e bebia no ambiente festivo que tanto encantou os gringos. Uma testemunha disse que tudo durou um minuto.

Tintim parara para experimentar uma saia na barraca de um ambulante, pois assim é a comunidade da Gávea, um bairro chique alternativo, muito verde, com comércio misto e casas ainda antigas, mais procurado por quem busca tranquilidade e qualidade de vida, não ostentação. O bairro abriga a PUC, universidade católica, o Jockey Club, escolas para pobres e ricos, cursos de balé e ioga. É caminho para a favela da Rocinha.

Se fosse apenas uma tragédia isolada e pontual da boemia carioca, o assassinato de Tintim não estaria aqui nesta coluna. A violência de bandidos ou da polícia invade todos os grandes centros urbanos e não escolhe classes sociais. Está associada a impunidade, corrupção, abuso de poder, disputa por pontos de droga e desrespeito à vida. Aterroriza os pacíficos e honestos.


Pais e mães não conseguem criar filhos sem paranoia.  Há quem apele a estratégias de guerrilha. No dia em que Tintim foi assassinada, ouvi uma jovem contar seu método para escapar ilesa de um eventual assalto no trânsito: “Minha bolsa que fica à vista é toda ‘fake’. É uma Vuitton falsificada, meus documentos são falsos, com nomes e endereços falsos, chaves falsas, celular que não funciona e mais uns R$ 50 e uns US$ 10 para o assaltante achar que se deu bem”. A bolsa verdadeira fica escondida. É uma história real. E faz todo sentido. Um sentido escabroso.

O que vemos não são simples assaltantes armados. São homicidas que saem para roubar. Poderiam ter dado um soco em Tintim, poderiam tê-la desacordado. Mas não. Deram um tiro para matar. Como fazem ao roubar um celular, uma bicicleta ou um carro – e a vítima, por medo ou susto, atrapalha por segundos a ação.

O “latrocínio” (assalto seguido de morte) é coisa nossa, quase não acontece em países civilizados. Cerca de 60 mil brasileiros são mortos por ano no país. Milhares de homicídios não são sequer registrados, por falta de confiança na investigação, por medo de vingança de gangues ou da PM. Nas estatísticas disponíveis, 164 pessoas são mortas por dia no Brasil. É como se um avião da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, fosse abatido a cada 43 horas, por um míssil chamado subdesenvolvimento. Mata-se no Brasil, em 38 horas, o equivalente aos 260 palestinos mortos em 11 dias de conflito com Israel (até a última sexta-feira). Se o que vivemos não é uma guerra civil, o que será? Hecatombe social?

Somos reféns, podemos não chegar vivos em casa e sabemos o risco de perder alguém querido. Por isso, nos tornamos piores, mais agressivos ou medrosos. Há uma tendência a culpar as vítimas. “Como assim sacar R$ 13 mil do banco? Nem de dia dá para fazer isso.” “Como assim segurar a bolsa? Todo mundo sabe que não dá para reagir, entrega tudo logo.” É horrível. É como culpar pelo estupro a moça que ostentou as coxas com uma saia curta.

Houve um tempo, no Brasil, em que o verbo “reagir” significava outra coisa. Gritar por socorro. Tentar bater no assaltante ou ameaçar o bandido. Hoje, se o rapaz fugir de bicicleta, se a moça esconder rápido o celular na mochila, se o homem acelerar o carro, se a mulher segurar a bolsa, pronto. “Reagiram”, todos. Perderam a vida. Isso é barbárie, uma sociedade sem educação, sem humanidade, com total desprezo a leis que existem para não ser cumpridas.
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