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A COMPENSAÇÃO - Luis Fernando Verissimo

Não faz muito, li um artigo sobre as pretensões literárias de Napoleão Bonaparte. Aparentemente, Napoleão era um escritor frustrado. Tinha escrito contos e poemas na juventude, escreveu muito sobre política e estratégia militar e sonhava em escrever um grande romance. 

Acreditava-se, mesmo, que Napoleão considerava a literatura sua verdadeira vocação, e que foi sua incapacidade de escrever um grande romance e conquistar uma reputação literária que o levou a escolher uma alternativa menor, conquistar o mundo. 

Não sei se é verdade, mas fiquei pensando no que isto significa para os escritores de hoje e daqui. Em primeiro lugar, claro, leva a pensar na enorme importância que tinha a literatura nos séculos 18 e 19, e não apenas na França, onde, anos depois de Napoleão Bonaparte, um Vitor Hugo empolgaria multidões e faria História não com batalhões e canhões mas com a força da palavra escrita, e não só em conclamações e panfletos mas, muitas vezes, na forma de ficção. 

Não sei se devemos invejar uma época em que reputações literárias e reputações guerreiras se equivaliam desta maneira, e em que até a imaginação tinha tanto poder. Mas acho que podemos invejar, pelo menos um pouco, o que a literatura tinha então e parece ter perdido: relevância. 

Se Napoleão pensava que podia ser tão relevante escrevendo romances quanto comandando exércitos, e se um Vitor Hugo podia morrer como um dos homens mais relevantes do seu tempo sem nunca ter trocado a palavra e a imaginação por armas, então uma pergunta que nenhum escritor daquele tempo se fazia é essa que nos fazemos o tempo todo: para o que serve a literatura, de que adianta a palavra impressa, onde está a nossa relevância? 

Gostávamos de pensar que era através dos seus escritores e intelectuais que o mundo se pensava e se entendia, e a experiência humana era racionalizada. O estado irracional do mundo neste começo de século é a medida do fracasso desta missão, ou desta ilusão.  

Depois que a literatura deixou de ser uma opção tão vigorosa e vital para um homem de ação quanto a conquista militar ou política ― ou seja, depois que virou uma opção para generais e políticos aposentados, mais compensação pela perda de poder do que poder, e uma ocupação para, enfim, meros escritores ―, ela nunca mais recuperou a sua respeitabilidade, na medida em que qualquer poder, por armas ou por palavras, é respeitável. 

Hoje a literatura só participa da política, do poder e da História como instrumento ou cúmplice. E não pode nem escolher que tipo de cúmplice quer ser. Todos os que escrevem no Brasil, principalmente os que têm um espaço na imprensa para fazer sua pequena literatura ou simplesmente dar seus palpites, têm esta preocupação. Ou deveriam ter. 

Nunca sabemos exatamente do que estamos sendo cúmplices. Podemos estar servindo de instrumentos de alguma agenda de poder sem querer, podemos estar contribuindo, com nossa indignação ou nossa denúncia, ou apenas nossas opiniões, para legitimar alguma estratégia que desconhecemos. Ou podemos simplesmente estar colaborando com a grande desconversa nacional, a que distrai a atenção enquanto a verdadeira história do País acontece em outra parte, longe dos nossos olhos e indiferente à nossa crítica. 

Não somos relevantes, ou só somos relevantes quando somos cúmplices, conscientes ou inconscientes. Mas comecei falando da frustração literária de Napoleão Bonaparte e não toquei nas implicações mais importantes do fato, pelo menos para o nosso amor próprio. 

Se Napoleão só foi Napoleão porque não conseguiu ser escritor, então temos esta justificativa pronta para o nosso estranho ofício: cada escritor a mais no mundo corresponde a um Napoleão amenos. A literatura serve, ao menos, para isso: poupar o mundo de mais Napoleões. 

Mas existe a contrapartida: muitos Napoleões soltos pelo mundo, hoje, fariam melhor se tivessem escrito os romances que queriam. O mundo, e certamente o Brasil, seriam outros se alguns Napoleões tivessem ficado com a literatura e esquecido o poder. 

E sempre teremos a oportunidade de, ao acompanhar a carreira de Napoleões, sub- Napoleões, pseudo-Napoleões ou outras variedades com poder sobre a nossa vida e o nosso bolso, nos consolarmos com o seguinte pensamento: eles são lamentáveis, certo, mas imagine o que seria a sua literatura. 

Da série Poesia numa Hora Destas?!Deus não fez o homem, assim, de improviso em cima da divina coxa numa hora vaga. Planejou o que faria com esmero e juízo (e isso sem contar com assessoria paga).

Tudo foi pensado com exatidão antes mesmo do primeiro esboço, e foram anos de experimentação até Deus dizer que estava pronto o moço. Mas acontece sempre, é sempre assim não seria diferente do que é agora. A melhor idéia apareceu no fim e dizem que o polegar Ele bolou na hora.
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A INVENÇÃO DO MILÊNIO - Luis Fernando Verissimo


Qual foi a maior invenção do milênio? 

Minha opinião mudou com o tempo. Já pensei que foi o sorvete, que foi a corrente elétrica, que foi o antibiótico, que foi o sufrágio universal, mas hoje ― mais velho e mais vivido ― sei que foi a escada rolante. 

Para muitas pessoas, no entanto, a invenção mais importante dos últimos mil anos foi o tipo móvel de Gutemberg. Nada influenciou tão radicalmente tanta coisa, inclusive a religião (a popularização e a circulação da Bíblia e de panfletos doutrinários ajudaram na expansão do protestantismo), quanto a prensa e o impresso em série. Mas há os que dizem que a prensa não é deste milênio, já que os chineses tiveram a idéia de blocos móveis antes de Gutemberg, e antes do ano 1001, e que ― se formos julgar pelo impacto que tiveram sobre a paisagem e sobre os hábitos humanos ― o automóvel foi muito mais importante do que a tipografia. 


O melhor teste talvez seja imaginar o tempo comparativo que levaríamos para notar os efeitos da ausência do livro e do automóvel no mundo. Sem o livro e outros impressos seríamos todos ignorantes, uma condição que leva algum tempo para detectar, ainda mais se quem está detectando também é ignorante. Sem o automóvel, não existiriam estradas asfaltadas, estacionamentos, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e provavelmente nem os Estados Unidos, o que se notaria em seguida. 


É possível ter uma sociedade não literária, mas é impossível ter uma civilização do petróleo e uma cultura do automóvel sem o automóvel. Ou seja: nós e o mundo seríamos totalmente outros com o Gutemberg e sem o automóvel, mas seríamos os mesmos, só mais burros, com o automóvel e sem o Gutemberg.


É claro que esse tipo de raciocínio ― que invenções fariam mais falta, não num sentido mais nobre, mas num sentido mais prático ― pode ser levado ao exagero. Não seria difícil argumentar que, por este critério, as maiores invenções do milênio foram o cinto e o suspensório, pois o que teriam realizado Gutemberg e o restante da humanidade se tivessem de segurar as calças por mil anos? Já ouvi alguém dizer que nada inventado pelo homem desde o estilingue é mais valioso do que o cortador de unhas, que possibilitou às pessoas que moram sozinhas cortar as unhas das duas mãos satisfatoriamente, o que era impossível com a tesourinha. 

Tem gente que não consegue imaginar como o homem pôde viver tanto tempo sem a TV e uma geração que não concebe o mundo sem o controle remoto. E custa acreditar que nossos antepassados não tinham nada parecido com tele entrega de pizza. Minha opinião é que as grandes invenções não são as que saem do nada, mas as que trazem maneiras novas de usar o que já havia. Já existia o vento, faltavam inventar a vela. Já existia o bolor do queijo, faltava transformá-lo em penicilina. E já existia a escada, bastava pô-la em movimento. 


Tenho certeza que se algum viajante no tempo viesse da antiguidade para nos visitar, se maravilharia com duas coisas: o zíper e a escada rolante. Certo, se espantaria com o avião, babaria com o biquíni, admiraria a televisão, mesmo fazendo restrições à programação, teria dúvidas sobre o microondas e o celular, mas adoraria o caixa automático, mas, de aproveitável mesmo, apontaria o zíper e a escada rolante, principalmente esta. Escadas em que você não subia de degrau em degrau, o degrau levava você! Nada mais prático na antiguidade, onde escadaria era o que não faltava. Com o zíper substituindo ganchos e presilhas, diminuindo o tempo de tirar e botar a roupa e o risco deflagrantes de adultério e escadas rolantes facilitando o trânsito nos palácios, a antiguidade teria passado mais depressa, a Idade Moderna teria chegado antes, o Brasil teria sido descoberto há muito mais tempo e todos os nossos problemas já estariam resolvidos ―faltando só, provavelmente, a reforma agrária. E o Homem do milênio? Se não foi o Gutemberg, quem foi?


Também depende dos critérios. Se o fato mais importante do mundo no fim do milênio é a globalização, então devemos honrar o homem que começou tudo isso: Gengista. Foi ele que convocou as tribos das estepes e avançou contra o Ocidente, unindo a Europa no susto. Antes da ameaça dos mongóis, no século 13, a Europa era uma coleção de Estados monárquicos e papais em conflito, sem qualquer identidade continental ou interessemo restante do mundo.


Gengis e seus ferozes descendentes mudaram tudo isto. Criaram entre os europeus a idéia de uma identidade comum, despertaram o seu interesse no Oriente e em outros povos e foram os responsáveis indiretos pelo Renascimento, no século seguinte. E dizem que foi um neto do grande Han, ao reclamar da falta de gosto da comida européia antes de decapitar um garçom, que deflagrou a grande busca por especiarias que levou aos descobrimentos, ao comércio internacional e à civilização como nós a conhecemos. 


Nós,literalmente, não estaríamos aqui se não fosse o Gengis Khan. 

E a mulher do milênio, claro,é a Patrícia Pillar.

A MULHER DO VIZINHO - Luís Fernando Verissimo

Sérgio abriu a porta e era a mulher do vizinho. 
A fantástica mulher do vizinho. A fantástica mulher do vizinho dizendo "Oi". A fantástica mulher do vizinho perguntando, depois do "Oi", se podia pegar uma toalha que tinha voado da sacada deles. "Sabe, o vento"― para a sacada dele.

― Entre, entre, disse o Sérgio, checando, rapidamente, com a mão, se sua braguilha não estava aberta. Morava sozinho, às vezes se descuidava dessas coisas.Ela começou a entrar, mas parou. Ficou como que paralisada, só os olhos se mexendo. Os grandes olhos verdes e arregalados indo de um lado para o outro.

― Ih ― disse a mulher do vizinho. ― Surtei.

― Que foi? ― perguntou Sérgio, já pensando em como socorrê-la ("Vamos ter de desamarrar esse bustiê"), já pensando em ambulância, hospital, confusão, mal-entendido com o vizinho...
Mas ela explicou:
― O seu apartamento é exatamente o oposto do nosso. Preciso me acostumar...

Ela entrou devagarinho. Como se, além de ser o avesso do seu, o apartamento do Sérgio pudesse conter outras surpresas. O chão podia estar no teto e o teto no chão.

― Que coisa! ― disse a mulher do vizinho, passando por Sérgio e parando no meio da sala.

Exatamente o que Sérgio tinha pensado ao ver que sobrava um pouco de nádega onde acabava o shortinho da mulher do vizinho. No caso, que coisas!

― Você quer sentar?
― Como?
― Até se orientar...
Ela sentou-se, ainda maravilhada.
― Nossa televisão também fica ali, só que ao contrário!

Ele tentou acalmá-la.
― Você quer um copo d'água 
― Você é solteiro?― Sou.
― Meu marido é casado. Aliás, comigo. Viu só ― O quê?
― É tudo ao contrário!
― É. Eu...
― Palmeiras ou Corinthians?
― Corinthians.
― Ele é Palmeiras!
― Puxa.
― Destro ou canhoto!
― Destro.
― Meu marido é canhoto!
― E você 
― Eu o quê?
― Palmeiras ou Corinthians? Destra ou canhota?
Ela tinha se levantado e estava andando pela sala. 
Cuidadosamente, até se acostumar com tudo ao contrário. Disse:
― Não dou muita importância para essas coisas.

Foi nesse momento que Sérgio se apaixonou pela mulher do vizinho. Os grandes olhos verdes tinham ajudado, claro. Os nacos de nádega sobrando do shortinho também. As coxas longas, sem dúvida. O "erre" meio carregado (ela dissera "Palmeirrras" e Corrinthians", em alemão) contribuíra. Mas Sérgio se apaixonou pela mulher do vizinho quando ela declarou que não dava muita importância para essas coisas, times de futebol, ser destro ou canhoto...

Ficou esperando que ela dissesse "Isso é coisa de homem" para se atirar aos seus pés e beijá-los, mas ela não disse. Ela conseguiu chegar até a sacada, apesar de desorientada,e apanhar a toalha. Mas, quando se virou para reentrar na sala, ficou paralisada outra vez.Ficou em pânico.
― Ai meu Deus.
― O que foi?
― A porta da rua. Onde fica a porta da rua?
― É aquela ali.― Ai meu Deus. Eu não consigo me orientar.
― Pense no meu apartamento como o seu apartamento visto no espelho. A esquerda fica na direita e a direita...
― Por favor: esquerda e direita não, senão complica ainda mais!
Ele foi buscá-la. Ele foi salvá-la da sua confusão. Ele enlaçou sua cintura com um abraço, segurou a sua mão e começou a acompanhá-la até a porta, como se dançassem um minueto. Pensou em dizer que também estava desorientado (o amor, o amor) e levá-la para o seu quarto, para a sua cama. Imaginou-se tendo dificuldade para desamarrar o bustiê, os doischegando à conclusão que no apartamento dele o bustiê deveria ser desamarrado aocontrário, depois desistindo de desamarrar o bustiê e se amando. O bustiê arrancado. O shortinho arrancado. E a mulher do vizinho, como se não bastassem o "erre" um pouco carregado e tudo mais, revelando que não usava calcinha. E dizendo que ele era tudo que o vizinho não era. Que ele era o oposto do vizinho em tudo. Em tudo!

Mas chegaram, não ao orgasmo simultâneo ("Com ele isto nunca aconteceu, com ele é o contrário!"), mas à porta. Ela agradeceu, se despediu e já ia saindo, levando a sua toalha, e todas as esperanças do Sérgio, quando se virou, deu outra passada de grandes olhos verdes pelo apartamento, e disse:
― Preciso voltar aqui.
― Para se acostumar ― disse Sérgio.
― É ― disse ela. 
E sorriu. 
Ainda por cima, ela sorria!
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A CANTADA - Luis Fernando Verissimo

Quero ir para a cama com você.

- O que?!

- No momento em que vi você entrando no bar, pensei: quero ir para a cama com essa mulher.

- Olha aqui, não sei quem você pensa que eu sou, mas...

- Por favor, não se ofenda. Talvez não aconteça, nós irmos juntos para a cama. Provavelmente não vai acontecer. Mas achei que você deveria saber o sentimento que despertou em mim, no momento em que a vi. Eu sei, você deve estar pensando quem é esse maluco que sai da mesa dele e vem até a minha me dizer que quer ir para a cama comigo? Que nem sabe o meu nome ou qualquer outra coisa a meu respeito, que nem liga para o homem que está comigo e daqui a pouco vai se levantar e pedir satisfações. Mas acredite, eu não sou um louco. Minhas intenções são as mais puras, eu...

- Puras?! Você vem aqui dizer na minha cara e na cara do meu namorado que quer fazer sexo comigo e...

- Espera aí. Quem falou em sexo? Eu não falei em sexo.

- Como?

- Cama não é só para sexo.

- Não entendi...

- Eu disse que queria ir para a cama com você. Não fazer sexo.

- Você quer dormir comigo, é isso? Dormir mesmo. Só dormir.

- Não. Só dormir, não. Tudo que vem antes, durante e depois de dormir. Tudo que um casal faz junto, quando está casado há tempo. Os velhos hábitos. Quem dorme de que lado, quem fica lendo até tarde e o outro reclama. Quem tem pés frios e faz questão de encostá-los nos pés do outro. As conversas de cama. Como foi o seu dia? Como está á sua lombalgia? Quando será que os netos vêm nos visitar? Nos imaginei acordando na mesma cama, os dois meio emburrados pelo sono. A decisão de todos os dias: quem vai ao banheiro primeiro? O que os dois fazem no banheiro? As escovas de dente dos dois, lado a lado. Existe coisa mais comovente do que duas escovas de dente lado a lado num banheiro? Me imaginei de pijama amarrotado, e você de camisola de flanela. Quando você entrou no bar, tive uma visão: você de camisola de flanela.

- Mas tudo isso só vem depois de muitos anos de casados.

- Claro.

- E de sexo.

- Bom, se você quiser pensar assim... Mas o sexo seria apenas uma etapa.

COMPENSAÇÕES - Luis Fernando Verissimo

Você prefere a paz que só produz 
o relógio cuco 
ou a confusão que produz dois, três, 
muitos Leonardo da Vinci?

Perguntaram ao escritor sulista americano William Faulkner como ele explicava o florescimento literário havido no Sul dos Estados Unidos depois da Guerra Civil e sua resposta foi sucinta: “Nós perdemos.” A humilhação da derrota e o fim de um tipo de vida explicavam a literatura, que misturava nostalgia, decadência, romantismo sombrio e um certo preciosismo “faisandé”. O estilo perdurou até autores modernos como Truman Capote, Carson McCullers, Flannery O´Connor, Tennesse Williams e o próprio Faulkner, e ganhou um nome: “gótico sulista”. O Sul perdeu a guerra, mas criou um gênero.

Quando Homero disse (se é que disse mesmo, nada que se sabe de Homero é cem por cento certo, nem a sua existência) que as guerras aconteciam para serem cantadas pelos poetas, não queria dizer que a arte compensava tudo. Ou queria? Contam que um grupo de oficiais nazistas foi visitar o atelier do Picasso durante a ocupação de Paris e, vendo uma reprodução do seu quadro “Guernica”, a dramática recriação da destruição daquela pequena cidade pelos alemães na Guerra Civil espanhola, um deles comentou: “Ah, foi você que fez isso, não foi?” Ao que Picasso teria respondido: “Não, foram VOCÊS que fizeram isso.” 

Por um tortuoso raciocínio homérico se poderia concluir que os alemães foram coautores da pintura. Pelo mesmo raciocínio, louve-se a perseguição fascista na Europa pelo exílio de tantas mentes superiores e tanto talento na América, louve-se a escravatura pela nossa rica cultura negra e louve-se as agruras do nosso agreste pelos bons escritores e artistas nordestinos.

Tudo isto foi sintetizado naquela celebre fala que deram para o Orson Welles (há quem diga que a fala foi escrita pelo próprio Welles) no filme “O terceiro homem”, adaptado de um romance do Graham Greene. Para justificar seu mau caráter, Welles compara a conturbada história da Itália antes da unificação com a milenar placidez da Suíça. Enquanto a Itália, junto com conspiradores, corruptos e canalhas tinha produzido alguns dos maiores gênio da humanidade, a bem comportada Suíça só produzira o relógio cuco.

Mas a ideia de que arte compensa qualquer barbaridade é perigosa. Melhor dizer que os eventuais benefícios de crimes históricos não os absolvem. São efeitos acidentais, como certos queijos que descendem do leite estragado. 

E você, prefere a paz que só produz o relógio cuco ou a confusão que produz dois, três, muitos Leonardo da Vinci?

A AGENDA - Luis Fernando Verissimo

Um homem chamado Cordeiro abre a agenda em cima da sua mesa de trabalho e vê escrito: "Comprar arma”. Ele não se lembra de ter escrito aquilo. Como tem agenda justamente para ajudá-lo a se lembrar das coisas, compra uma arma, mesmo não sabendo para quê. No dia seguinte, vê na agenda: "Marcar almoço com Rodrigues." Mais uma vez, não se lembra de ter escrito aquilo, nem tem qualquer razão para almoçar com o canalha do Rodrigues. Mas marca o almoço. Durante o qual ouve do canalha do Rodrigues a notícia de que pretende se afastar da companhia e vender sua parte ao canalha do Pires, que assim terá a maioria e mandará na companhia, inclusive no Cordeiro. Cordeiro insiste para que Rodrigues venda sua parte a ele e não ao Pires, mas Rodrigues ri na sua cara e ainda por cima não paga a sua parte no almoço. 

Naquela tarde, Cordeiro vê na sua agenda: "Matar Rodrigues. Simular assalto." E o dia e a hora em que deve acontecer o assassinato, sublinhados com força. E na mesma folha: "Providenciar álibi: lancha." Lancha? Cordeiro vira a página. Lá está o plano, meticulosamente detalhado. Sair com a lancha no domingo, assegurando-se de que todos no clube o vejam sair com a lancha, encostá-la em algum lugar ermo onde deixou seu carro no dia anterior, ir de carro até a casa de Rodrigues, matá-lo, jogar a arma fora, voltar de carro para a lancha e voltar de lancha para o clube, onde todos o veriam chegar como se nada tivesse acontecido. É o que faz. 


Na segunda-feira, Cordeiro arregala os olhos e finge estar chocado quando chega à firma e ouve do Pires a notícia de que houve um assalto no fim de semana e o Rodrigues foi baleado, e está morto. Pires revela que estava desconfiado de que Rodrigues iria vender sua parte na companhia a Cordeiro. Pretendia marcar um almoço para discutir o assunto com o canalha do Rodrigues, mas no dia Rodrigues dissera que tinha outro compromisso para o almoço. Na saída do escritório, Pires diz que na última reunião dos três sócios tinha saído por engano com a agenda do Cordeiro e pergunta se por acaso o Cordeiro não ficou com a sua agenda.


Ou então: Na segunda-feira, Cordeiro arregala os olhos e finge estar chocado quando chega à firma e ouve do Pires a notícia de que houve um assalto no fim de semana e o Rodrigues foi baleado, e está morto. Os dois marcam uma reunião para tratar do que fazer com a parte do Rodrigues, mas não chegam a um acordo e brigam. Naquele mesmo dia, Cordeiro vê escrito na sua agenda: "Incriminar Pires." É o que faz. Orientado pela agenda, consegue plantar pistas falsas e convencer a polícia de que Pires matou Rodrigues porque este pretendia vender sua parte na firma a Cordeiro. Com Pires afastado, Cordeiro assume o comando da firma e a faz crescer como nunca ― sempre seguindo as ordens da agenda, que não erra uma. 


Até que um dia a agenda lhe manda juntar todo o dinheiro em caixa na firma, vender o que for possível para levantar mais dinheiro e jogar tudo na bolsa. "Agora!", ordena a agenda. Cordeiro jogou na bolsa todo o dinheiro que tinha, o seu e o da firma. Foi na véspera da grande queda. Perdeu tudo. Quando consultou a agenda de novo, desesperado, sem saber o que fazer encontrou apenas a frase: "Quem entende a bolsa?”. 


E no dia seguinte: "Comprar arma”.
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É O CALOR - Luis Fernando Verissimo

Alguém tem que assumir a culpa, minha filha! 
Sensação térmica de 51 graus, alguém tem que ser responsável’

Pode acontecer. A moça do tempo na TV entra no bar com um grupo de amigos. É recebida com óbvio desconforto pelos frequentadores do bar. Ouve-se um zum-zum-zum de desaprovação à sua presença. O grupo da moça ocupa uma mesa. Depois de algum tempo, um homem da mesa ao lado não se contém e pergunta:

— Você não é a moça do tempo, na TV?

A moça diz que é, sorrindo, mas o homem não sorri. Pergunta:

— Até quando vai esse calor?

— Pois é — diz a moça, ainda sorrindo. — Está difícil de prever. Tem uma zona de pressão na...

— Não — interrompe o homem. — Não me venha com zona de pressão. Chega de enrolação.

Uma mulher de outra mesa se manifesta:

— Há dias que você põe a culpa pelo calor nessa zona de pressão. E não toma providências.

— Minha senhora, eu...

Outros começam a gritar.

— Sensação térmica de 51 graus. Onde já se viu isso?

— Não dá mais para aguentar!

— Faça alguma coisa!

A moça do tempo na TV agora está em pânico.

— O que eu posso fazer? Eu só descrevo o tempo. Não tenho o poder de...

— Alguém tem que assumir a culpa, minha filha! Sensação térmica de 51 graus, alguém tem que ser responsável.

— A culpa é da Natureza!

— Rá. Natureza. Muito bonito. Muito conveniente. É como culpar a corrupção pela índole do brasileiro. Aqui ninguém tem culpa de ser corrupto, é a índole. A índole do tempo, num país tropical, é essa. E quem pode reclamar da índole? Ou da Natureza? De você nós podemos reclamar, querida.

— Mas a culpa não é minha!

— Estamos cansados do seu distanciamento enquanto mostra no mapa que o calor só vai aumentar. Seu ar superior, como se não tivesse nada a ver com aquilo. Chega!

A mesa da moça do tempo na TV está cercada. Caras raivosas. Ameaça de violência. A moça do tempo na TV se ergue e grita:

— Esta bem! Está bem! Amanhã eu faço chegar uma frente fria. Eu prometo!

As pessoas se acalmam. Todos voltam para as suas mesas. O garçom vem tirar o pedido do grupo da moça do tempo na TV e tenta explicar:

— É o calor... O pessoal fica meio louco.

O FUTURO DO GPS - Luiz Fernando Verissimo (escrito em 2009)

Ainda não me refiz da primeira vez que vi um GPS funcionando. GPS, já sabia todo o mundo menos eu, quer dizer Sistema de Posicionamento Global, em inglês. É um aparelho que mostra onde estamos numa telinha e diz como chegar onde queremos ir. Diz, literalmente. O danado do aparelho não apenas fala como é poliglota: você pode escolher a língua com a qual será guiado. Durante a Copa do Mundo na Alemanha, que foi quando conheci o engenho mágico, éramos orientados por uma simpática portuguesa que não nos deixava confundir ingang com aufgang, chamava rotatória de “rotunda” e nunca nos falhou. 

Nem comecei a tentar compreender como a visão de um satélite estacionado sobre nossas cabeças chegava no carro e se transformava em voz com sotaque português. Eu ainda não sei bem como funciona grampeador.

Mas posso imaginar como será o futuro do GPS. É provável que um dia ele assuma o volante e dispense o motorista, eliminando uma etapa no processo de dar direções e só usando sua voz para gritar com as crianças no banco de trás. E não é impossível que, com o tempo, surja uma espécie de GPS moral, um sistema de orientação não para veículos mas para gente, que mostre o caminho a ser seguido, os desvios éticos a serem evitados e a melhor saída para qualquer “rotunda” de incertezas que possa nos comprometer. 

O aparelho não seria maior do que um celular que cada um carregaria no bolso ou na bolsa.

Porque a verdade é que todos os nossos antigos sistemas de orientação – o religioso, o familiar, o jurídico, o filosófico – falharam, somos uma geração à deriva, sem giroscópio. 

Com o aperfeiçoamento do GPS seríamos guiados por uma entidade superior que tudo vê e tudo sabe, um satélite estacionário sem nenhuma dúvida sobre o que é certo e o que é errado e o que nos convém. Bastaria levar o aparelho ao ouvido e escutar seus conselhos. 
Na voz que escolheríamos.

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Grande Edgar

Já deve ter acontecido com você.

— Não está se lembrando de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele esta ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando sua resposta. Lembra ou não lembra?
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.
Um, curto, grosso e sincero.
— Não.
Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O "Não" seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Passe bem. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem. Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
— Não me diga. Você é o... o...
"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com sua agonia. Ou você pode dizer algo como:
— Desculpe, deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa "não tortura um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!". É uma maneira simpática de você dizer que não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve a insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.
E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
— Claro que estou me lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:
— Há quanto tempo!
Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.
— Então me diga quem sou.
Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, e falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:
— Pois é.
Ou:
— Bota tempo nisso.
Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem será esse cara meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como jabs verbais.
— Como cê tem passado?
— Bem, bem.
— Parece mentira.
— Puxa.
(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)
Ele esta falando:
—Pensei que você não fosse me reconhecer...
—O que é isso?!
—Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.
—E eu ia esquecer de você? Logo você?
—As pessoas mudam. Sei lá.
— Que idéia. (é o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Rezende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. "Que bom encontrar você!" e paf, chuta uma perna. "Que saudade!" e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)
— É incrível como a gente perde contato.
— É mesmo.
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
— Cê tem visto alguém da velha turma?
— Só o Pontes.
— Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)
— Lembra do Croarê?
— Claro!
— Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.
— Velho Croarê. (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)
— Rezende...
— Quem?
Não é ele. Pelo menos isto esta esclarecido.
— Não tinha um Rezende na turma?
— Não me lembro.
— Devo esta confundindo.
Silêncio. Você sente que esta prestes a ser desmascarado.
Ele fala:
— Sabe que a Ritinha casou?
— Não!
— Casou.
— Com quem?
— Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador . Você esta tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?)
— Claro que conheci! Velho Bituca...
— Pois casaram.
É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.
— E não avisou nada?
— Bem...
— Não. Espera um pouquinho. Todas essas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, O Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?
— É que a gente perdeu contato e...
— Mas meu nome tá na lista meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.
— É...
— E você acha que eu ainda não vou reconhecer você. Vocês é que se esqueceram de mim.
— Desculpe, Edgar. É que...
— Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam. ( Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele esta na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de "Já?!".)
— Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
— Certo, Edgar. E desculpe, hein?
— O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.
— Isso.
— Reunir a velha turma.
— Certo.
— E olha, quando falar com a Ritinha e o Manuca...
— Bituca.
— E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?
— Tchau, Edgar!
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer "Grande Edgar". Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar "Você está me reconhecendo?" não dirá nem não. Sairá correndo.

Texto extraído do livro "As Mentiras que os Homens Contam", Luis Fernando Verissimo
Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 13.

VÁ ENTENDER - Luis Fernando Verissimo

Vá entender-1: quando era raro mulher ir a futebol os calçõezinhos curtos dos jogadores deixavam suas coxas reluzentes à mostra. À medida que mulheres começaram a frequentar os estádios, os calções foram aumentando de tamanho. Hoje são até mais compridos do que os que usavam os europeus, e dos quais dávamos risadas. 

Quando o Arsenal veio jogar no Brasil, na pré-história, nada parecia mais estranho do que seus calções até os joelhos. Hoje, vendo jogos antigos da seleção e de times brasileiros, nada parece mais estranho do que seus calçõezinhos apertados. As coxas reluzentes foram sonegadas das moças. Explicações sociológicas à vontade.

Vá entender-2: na Europa as manifestações populares são contra a austeridade e o corte nos gastos sociais do governo, para pagar as dividas e sanar as finanças. No Brasil, as manifestações são pela austeridade: protestam, entre outras coisas, pelo desperdício de dinheiro em estádios de futebol e os outros custos da Copa. 

Claro que nem os manifestantes europeus pedem que seus governos construam estádios de futebol para ficarem ociosos, como exemplo de estimulo à economia, nem os manifestantes brasileiros pedem que o governo não gaste nada. 

Mas o contraste entre as reivindicações de parte a parte mostra como essa questão de intervencionismo keynesiano versus conservadorismo monetarista pode ser apenas uma questão de geografia.

E chegamos, não me pergunte como, aos pelos pubianos. Durante muitos anos a “Playboy” americana publicou fotos de mulheres nuas sem mostrar seus pelos pubianos. Até que houve uma edição histórica por duas razões: pela primeira vez a nua do mês era negra, e apareciam seus pelos pubianos. Agora, como sabe quem costuma ver a “Playboy” brasileira, os pelos pubianos voltaram a desaparecer. Não por obra de retoque editorial ou fotoshop, mas por obra das próprias mulheres, que os raspam — ou no máximo os reduzem a um bigodinho do Hitler. Vá entender-3.

PAPO VOVÔ
Lucinda, nossa neta de 5 anos, volta e meia aparece com palavras novas, que não sabemos onde aprendeu. Sua palavra favorita, no momento, é “estatelado”. E no outro dia ela estava brincando de apresentadora de um programa culinário e, quando terminou seu bolo de faz de conta, mostrou para a câmera imaginária e disse: “Voalá!” Ficamos estatelados.

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Se eu fosse Deus

Eu gostaria de ser Deus não para consertar o mundo ou melhorar a humanidade, mas, confesso, para um fim menos nobre: conseguir mulher.

Posso imaginar como seria ter ao meu dispor todos os recursos de Deus para impressionar uma mulher. A começar pelo seu espanto ao saber da minha identidade. (Ela: “Você quer dizer Deus, Deus mesmo?! O Cara?!” Eu: “É”. Ela: “O Todo-Poderoso?!” Eu, para mostrar, além de tudo, simplicidade: “Sim, mas pode me chamar de Todo”.)

Eu não a convidaria para jantar, apenas. Mandaria um anjo fulgurante convidá-la para jantar comigo, no meu apartamento celestial ou no restaurante da sua predileção. Onde já começaria a mostrar os meus poderes, pedindo mineral sem gás e transformando-a não apenas em vinho, mas num Chateau Petrus 82.

Conversaríamos sobre banalidades:

Ela: “Deve dar trabalho, ser Deus.”

Eu, modestamente: “No começo, foi difícil. Tive que fazer tudo sozinho, do nada. Desde então, só dou retoques”.

Depois do jantar Eu a convidaria para ir ver o eclipse da Lua do meu terraço à beira-mar.

— Mas hoje não tem eclipse da Lua!

— Quer apostar?

Quando ficássemos mais íntimos, e ela mais crítica, Eu faria tudo que ela pedisse.

— Terremoto...Precisa ter?

— Está bem. Não vai mais ter terremoto.

— Dá para acabar com a má fase do São Paulo?

— Vamos ver o que se pode fazer.

Eu não lhe mandaria bilhetes amorosos, mandaria tábuas gravadas amorosas, entregues por profetas barbudos, junto com flores — todos os dias.

Presentes de pedras preciosas? Por que ser sovina e não lhe dar, logo, uma mina de diamantes?

E se, com tudo isso, Eu não a conquistasse, me restaria um último recurso: refazer-me completamente, do barro. Seguindo as suas instruções.

— Sem barba. Outro nariz. Mais alto...

O QUE SIGNIFICA ORÉGANO - Luis Fernando Verissimo

Um simples telefonema entre namorados (‘desliga você’, ‘não, desliga você’) pode ser interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas.

Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa Branca...

Você eu não sei, mas eu estou preocupadíssimo com a revelação de que os americanos têm monitorado tudo que é dito e escrito no Brasil nos últimos anos. Ouvem nossos telefonemas, leem nossos e-mails e provavelmente examinem o nosso lixo, atrás de indícios da nossa periculosidade. 

O que me preocupa é que esta informação, depois de coletada e classificada, é analisada talvez pelas mesmas pessoas que nunca duvidaram que o Saddam Hussein tivesse armas de destruição em massa e nunca estranharam que os sequestradores daqueles aviões que derrubaram as torres, no onze de nove, não se interessassem pelas aulas de aterrisagem nos seus cursos de aviação. 

Quer dizer, que garantia nós temos que não se enganarão de novo, e verão ameaças à segurança americana nas nossas comunicações mais inocentes?

Um simples telefonema entre namorados (“desliga você”, “não, desliga você”) pode ser interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas. Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa Branca. 

O fato é que tenho tentado recapitular todos os meus telefonemas e e-mails nos últimos anos, com medo de que um deles, mal interpretado, acabe provocando minha aniquilação por um drone.

Ou então me vejo chegando nos Estados Unidos, sendo barrado por um agente da imigração e levado para uma sala sem janelas, onde sou cercado por outros agentes, provavelmente da CIA, que me pedem explicações sobre um telefonema, obviamente em código, que fiz antes de viajar. Reconheço minha voz na gravação.

— O que quer dizer “à calabresa”, Mr. Verissimo? — pergunta um dos agentes.

Estou confuso. Não consigo pensar. Calabresa, calabresa...

— Alguma referência à máfia? Uma ligação da organização terrorista à qual o senhor evidentemente pertence, com a Camorra, visando a um atentado aqui nos Estados Unidos? O senhor veio se encontrar com a máfia americana para acertar os detalhes do complô. É isso, Mr. Verissimo?

— Não, não. Eu...

— Notamos que, mais de uma vez na gravação, o senhor diz “sem orégano, sem orégano”. Deduzimos que há uma divergência dentro do complô entre vocês e a máfia, uns a favor de se usar “orégano” no atentado, outros contra. O que, exatamente, significa “orégano”?

Finalmente, me dou conta.
— Orégano significa orégano. Eu estava pedindo uma...


— Por favor, não faça pouco da nossa inteligência, Mr.Verissimo. Não gastamos milhões de dólares para ouvir que orégano significa orégano.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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