CRISE DE PÂNICO! - COMO LIDAR.

O medo é imprescindível para a sobrevivência. algumas pessoas, porém,
têm a vida dominada por esse sentimento, que se manifesta em crises 
súbitas e intensas de desespero. Tratamento médico e psicoterapia
ajudam a controlar os sintomas e evitar que a ansiedade tome conta.

Plantas tóxicas, fome, conflitos tribais, predadores – nossos ancestrais sobreviveram a muitos riscos. Em um ambiente hostil, em que raramente se ultrapassava os 30 anos de idade, era preciso estar atento a muitos perigos para se proteger. Ao custo de sofrimento físico, perda de entes queridos e toda série de dificuldades aprendemos, por exemplo, a evitar alimentos de mau aspecto, andar por ruas desertas, desconfiar de desconhecidos. “A psique humana evoluiu em face do medo. Temos uma espécie de software – de milhões de anos, um pouco desatualizado talvez – que traz informações necessárias para nos manter a salvo”, explica o psicólogo Robert Leahy, professor da Faculdade Médica Weill-Cornell, autor de Livre da ansiedade (Artmed, 2011). Adaptativo, o medo se inicia quando reconhecemos uma ameaça e se dissipa logo que ela cessa. A ansiedade, por sua vez, está associada a antecipação. Ela é natural e nos prepara para enfrentar uma situação que nos desafia ou preocupa, como provas, entrevistas, resultados de exames médicos. Nesses momentos, é normal sentir o coração acelerar, a transpiração aumentar e mesmo insônia. Quando o problema é resolvido ela vai embora. “Já a ansiedade patológica não desaparece. Ela nos imobiliza e, para não ter de enfrentá-la, fugimos das situações. É crônica e vem sempre acompanhada de sintomas como palpitação, sudorese, tontura, sensação de estranhamento, diarreia”, diz o psiquiatra Antônio Nardi, diretor do Laboratório de Pânico e Respiração (LABPR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É considerado transtorno psíquico quando tem duração, intensidade e frequência desproporcionais.

Em alguns casos a ansiedade pode se manifestar em crise abrupta e intensa – um ataque de pânico. Uma onda de sensações desagradáveis, como impressão de asfixia, dor no peito, dormência dos membros, receio de enlouquecer ou mesmo de morrer, que se inicia e atinge seu pico em poucos minutos. As crises podem ocorrer de forma isolada ou ter relação com algum transtorno de ansiedade. Ataques recorrentes, acompanhados pela preocupação constante de sofrer outra crise – e as possíveis consequên-cias, muitas vezes imaginárias, que ela pode ter, como um infarto ou morte –, caracterizam, segundo o Manual diagnóstico e estatístico de doenças mentais (DSM), um estado extremo de ansiedade: o transtorno de pânico (TP), também conhecido como síndrome do pânico.

Por causa da semelhança com os sintomas de problemas cardiorrespiratórios, muitas pessoas com ataque de pânico vão parar no pronto-socorro ou passam por consultórios médicos de diferentes especialidades antes de procurar um psicólogo ou psiquiatra ou ser encaminhadas. É três vezes mais comum em mulheres e surge com mais frequência no início da vida adulta. Em alguns casos, é acompanhado de agorafobia – o receio de ter uma crise faz a pessoa começar a evitar lugares e situações em que, acredita, é mais difícil escapar ou receber ajuda. Assim, tarefas cotidianas, como usar transporte público rumo ao trabalho, fazer compras no supermercado ou sair de casa sem companhia, tornam--se cada vez mais difíceis. “É comum que parentes não compreendam o problema e acreditem que ‘é coisa da cabeça’ de quem sofre e adaptem a rotina familiar para que a pessoa não fique ou não saia só, o que pode parecer uma boa ajuda, mas que acaba colaborando para a manutenção do transtorno”, diz a psicóloga Marcele Regine de Carvalho, pesquisadora do LABPR.

O transtorno de pânico não tem causa específica. O mais provável é que seja resultado da interação entre herança biológica e fatores psíquicos e ambientais, como o estresse. Ter um parente de primeiro grau com o distúrbio é o principal fator de risco. Estudos com famílias, publicados nos anos 80 no Archives of General Psychiatry, demonstraram que pessoas com pai, mãe ou filho com transtorno de pânico têm oito vezes mais chances de apresentar os mesmos sintomas.

Pessoas com predisposição genética são mais suscetíveis a ter o distúrbio desencadeado por fatores externos, como algumas drogas. “São frequentes crises que se seguem ao abuso de álcool ou uso de substâncias recreativas, entre elas a maconha, e também de psicoestimulantes, como anfetaminas e café em excesso”, diz o psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Medicamentos anorexígenos (com finalidade de emagrecer), corticoides e broncodilatadores também podem induzir ataques.

PÍLULAS e CRENÇAS
O tratamento com medicamentos e psicoterapia cognitivo-comportamental (PCC) controla os sintomas em mais de 85% dos pacientes sem agorafobia – resultados que se mantêm mesmo depois de interrompê--lo. “Os medicamentos mais indicados são os benzodiazepínicos (ansiolíticos) e antidepressivos. Muitos pacientes utilizam fármacos dos dois grupos, para que sejam ministradas doses menores de cada, o que reduz efeitos colaterais. A medicação bloqueia os ataques de pânico, abrindo caminho para enfrentar situações temidas”, diz Nardi.

A PCC é uma abordagem breve, que ajuda o paciente a perceber padrões de pensamento que alimentam sua ansiedade e a aprender algumas estratégias para lidar com ela no dia a dia. “A maneira como se avalia uma situação influencia emoções, comportamentos e reações fisiológicas. Interpretações exageradamente negativas, ou catastróficas, causam respostas físicas desproporcionais à realidade. Reestruturar pensamentos distorcidos é uma forma de alterar emoções e atitudes”, diz Marcele.

Para isso, é essencial compreender a ansiedade como um mecanismo de defesa: as reações que desencadeia, embora assustem, não são necessariamente perigosas e podem ser controladas. A hiperventilação – decorrente das inspirações rápidas e profundas em uma crise de pânico, que pode desencadear a parte “automática” de um ataque –, por exemplo, pode ser amenizada com respiração diafragmática. De forma semelhante, exercícios de relaxamento podem reduzir a excitação neuromuscular e a hiperatividade cognitiva.

Estudos com testes respiratórios – como hiperventilação voluntária e inalação de dióxido de carbono (CO2) para induzir sintomas de pânico em laboratório –, aliás, demonstram que pacientes com o distúrbio são excessivamente sensíveis a essas alterações. Os núcleos da base (estruturas interconectadas com o córtex cerebral, o tálamo e o tronco encefálico, onde são sintetizados neurotransmissores), por exemplo, têm papel tanto na regulação da respiração quanto no processamento de emoções primitivas, como o medo. “Existe uma relação entre equilíbrio de neurotransmissores, pH do sangue e sistema respiratório.Pacientes que hiperventilam antes de um ataque de pânico podem aprender a bloquear a crise respirando adequadamente”, diz Nardi.

PROVOCANDO SINTOMAS
Fugir ou evitar situações que causam desconforto pode, em um primeiro momento, trazer alívio. Por outro lado, porém, mantém intactas as crenças que sustentam o medo. Uma segunda etapa da PCC, depois da reestruturação cognitiva e treino para lidar com os sintomas, é a terapia de exposição. Com orientação do psicólogo, o paciente faz exercícios que simulam sintomas de ansiedade e também entra em contato com estímulos temidos. “O objetivo é que ele consiga experimentar sintomas e habituar-se a eles, para que qualquer mudança corporal percebida não dispare necessariamente um ataque de pânico”, diz Marcele.

Correr no mesmo lugar, respirar por um canudo fino, prender a respiração e hiperventilar são exemplos de exercícios que simulam sensações físicas de uma crise. Já a exposição a situações que despertam a ansiedade é gradual e repetitiva, de modo a adaptar o paciente ao estímulo, extinguir a resposta de medo e fazê--l-o perceber que suas previsões excessivamente negativas raramente se confirmam. É comum que o psicólogo cognitivo faça também simulações imaginárias ou virtuais para adaptar o paciente aos poucos. “Grupos de apoio também são importantes. Ajudam a perceber que existem pessoas com problemas semelhantes e, principalmente, que muitas melhoram. Para os parentes de quem tem o transtorno é uma oportunidade para esclarecer dúvidas e preconceitos, além de aprender estratégias de enfrentamento, diz Bernik.

“O medo não é o sistema de navegação confiável que supomos. Ele se alimenta de crenças irracionais, de ‘certezas’ que, na realidade, apenas tornam nosso comportamento menos adequado, obscurecem nossas expectativas, afetam drasticamente a qualidade vida”, diz Leahy. Será que todas as nossas preocupações são importantes a ponto de ser preciso dar ouvidos a todas elas para nos proteger? A ansiedade nos permite antecipar problemas e soluções possíveis para evitar a dor e preservar nosso bem-estar – apesar de parecer o contrário. Nas palavras do pensador Sêneca, “há mais coisas que nos assustam do que coisas que efetivamente nos fazem mal; afligimo-nos mais pelas aparências do que pelos fatos”.

A CRISE DE ANSIEDADE
O ataque de pânico é um período de medo intenso e de desconforto. Pode ocorrer em qualquer momento ou situação. Alguns dos sintomas podem surgir de repente e atingir seu pico em torno de dez minutos:

1 -falta de ar ou sensação de asfixia
2- vertigem
3 - ritmo cardíaco acelerado (taquicardia)
4 - tremor
5 - suor frio
6 - náusea
7 - sensação de dormência
8 -ondas de calor ou frio
9 - dor no peito
10 - medo de morrer, enlouquecer ou perder o controle

ESTRESSE SOB CONTROLE
Congestionamentos, demandas do trabalho, cuidar de si próprio e de outros. É possível enumerar centenas de situações, apenas as mais corriqueiras, que deflagram estresse e ansiedade. São parte do cotidiano da maioria das pessoas. A diferença é a maneira como cada um lida com elas. Algumas medidas que ajudam a gerenciar melhor essas emoções:

1. Exame dos pensamentos
O psicólogo Robert Epstein, doutor pela Universidade Harvard, investigou como mais de 3 mil pessoas lidavam com as pressões do dia a dia. Ele descobriu que os que buscavam controlar pensamentos negativos – tentando enxergar a situação de maneira mais condizente com a realidade ou de perspectiva mais positiva – apresentavam menos sintomas de distúrbios psíquicos. Segundo o pesquisador, pessoas com transtornos de ansiedade tendem a antecipar problemas, superestimar sua importância e, mais ainda, prever desfechos trágicos. “Reinterpretar os eventos da vida faz com que eles deixem de nos incomodar tanto. A psicoterapia pode ser crucial nesse processo”, diz.

2. Relaxamento
Não faltam estudos que atestam os benefícios da ioga, de exercícios respiratórios e técnicas de meditação. Meditar regularmente reduz os níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse, e fortalece o sistema imunológico. Atividades de lazer também são importantes para amenizar a rotina e tirar o foco das preocupações.

3. Atividade física
Mexer o corpo melhora o humor. Atividade física regular estimula a produção de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, associadas às sensações de bem-estar e de motivação. Além disso, exercícios ao ar livre ou mesmo na academia de ginástica são boa oportunidade para sair de casa e interagir socialmente. As relações sociais são importantes para a manutenção do humor e da autoestima.

4. Alimentação
Dieta rica em nutrientes mantém a saúde do corpo – e também da mente. O endocrinologista sueco Fredik Nystrom, da Universidade de Linkoping, estudou o humor de 18 voluntários que, durante um mês, comeram apenas em lanchonetes – cardápio, claro, baseado em frituras e açúcar – e não fizeram exercícios físicos. Conclusão: o aumento da irritabilidade e do humor deprimido foi proporcional ao “estrago” na alimentação. Por outro lado, alimentos ricos em ácidos graxos ômega 3, como peixes, abóbora, semente de linhaça, soja, castanhas e, em menor quantidade, espinafre, couve e pepino, estão associados à melhora do bem-estar.

A RESPIRAÇÃO A SEU FAVOR
Respirações profundas e amplas, diafragmáticas, estimulam o controle parassimpático do funcionamento cardiovascular, ajudando a normalizar o ritmo dos batimentos cardíacos. O ideal é treinar a técnica tranquilamente para aplicá-la quando surgirem os sintomas de ansiedade:Inspire pouco ar pelo nariz, devagar, contando até três. Prenda um pouco a respiração e sinta o abdome estufar. Depois, expire longa e suavemente pela boca, contando até seis.
Fernanda Teixeira Ribeiro - Revista Mente Cérebro

WALCYR CARRASCO - A droga e o egoísmo

Não sou a favor de proibir as drogas, 
mas também não sou obrigado a assistir à viagem de ninguém

Recebi um hóspede em meu apartamento do Rio de Janeiro. No domingo, ele saiu para passear. Voltou à 1 da manhã completamente bêbado. Mas querendo conversar. Tem coisa pior que suportar um bêbado falando de si mesmo, chorando e pedindo apoio afetivo e psicológico? Sou solidariedade zero nesses casos. Mandei o hóspede ir dormir. Ele se revoltou, discutiu e vomitou no sofá. Depois, foi deitar. De tempos em tempos, levantava-se para vomitar. Como tudo que pode dar errado dá errado, justamente nessa noite a água do prédio fora cortada para limpeza das caixas na manhã seguinte. Eu mesmo enchera vários baldes para garantir. Tive de carregar os baldes apartamento afora, para limpar os vestígios da bebedeira. No dia seguinte, ainda de ressaca, ele disse simplesmente:

– Me perdoa, bebi demais.

Respondi mais simplesmente ainda:

– Esse não é o tipo de situação que se resolve com um pedido de desculpas. Estou magoado, ofendido e não perdoo, não. É melhor você encurtar sua estadia e voltar para casa.

Não consigo ser educado nessas horas. Talvez tenha de trocar o revestimento do sofá, manchado. O ex-hóspede não tem grana para isso. Ele ainda tentou amenizar a situação.

– É que eu estava numa viagem.

Viagem? Até agora, falei sobre uma droga legal, o álcool, mas tão inconveniente e perigosa como qualquer outra. Fiz uma reflexão. O usuário é sempre um egoísta. Não uso drogas. Conheço gente que gosta e passei a odiar a palavra viagem nesse sentido. O sujeito se enche de maconha e sorri, extasiado, dizendo que está numa “viagem”. Vejam bem, não sou contra a legalização da maconha. Sou a favor. Recentemente, tentei explicar a um amigo, que tragava um cigarrinho atrás do outro:

– Olha bem, você está numa viagem. Mas não comprei o tíquete para esse trem. Então, sou obrigado a ficar assistindo a sua viagem, a ouvir o que diz, a contemplar seu delírio. Só que você não me perguntou se quero ficar de plateia. Embarcou, o trem partiu, e fiquei olhando da plataforma.

Minha visão em relação ao uso é liberal, porque acho que cada um é dono de seu corpo. Mas minha postura na vida é rígida quando o tema me toca de perto. Não admito que levem drogas ilegais no meu carro. Escrevo livros para crianças e jovens, entre outras coisas. Meu livro Vida de droga fala justamente contra o crack. Meu comportamento se torna exemplo para meus leitores. Se sei que algum carona gosta da coisa, explico longamente como isso pode me prejudicar. Adianta? Ele leva escondido. Várias vezes, depois da chegada à praia, vejo o carona com seu cigarrinho.

– Você trouxe no meu carro?
– Não, não...

Para ele, não importa se uma manchete no jornal envolvendo meu nome prejudica minha relação com os leitores. Só quer curtir.

Sei que é uma abordagem diferente. Quando se fala de drogas, discutem-se a legalização e os riscos. Penso no meu lado, no que acontece com quem não usa. O usuário não aceita que alguém não participe de seu prazerzinho – e incluo aí os fumantes que acendem o cigarro na nossa cara. Qual o direito de alguém expor minha saúde, se não sou fumante? Há situações bem piores. Em uma festa, uma garota disse a um amigo do tipo bem-comportado:

– Hoje vou deixar você maluco.

Ele nem se importou. Continuou na água. De repente, segundo sua descrição, um pontinho preto apareceu na sua frente. E foi se esticando, até formar uma linha. Iniciou-se um turbilhão. Correu para o carro e, até hoje, não sabe como chegou em casa. Haviam colocado MDMA na água. Para quem não sabe, é uma das drogas do momento. Tem o princípio ativo do ecstasy, provoca alteração dos sentidos, muda o comportamento. Há festas em que é colocado até na água oferecida aos convidados. Numa casa noturna, alguém pode botar no seu copo sem que você perceba. A diversão de quem apronta é ver a festa “pirar”, transformar a balada numa “loucura”. Só que tem efeitos colaterais. Quem tem problemas de pressão pode morrer. Mas o usuário não pensa nisso. Depois de tudo, se diverte comentando as próprias loucuras e as que os outros praticaram.

A discussão sobre a legalização das drogas está aí, é uma questão social e política.

Mas o uso é uma questão ética. Droga e egoísmo andam juntos, é o que já percebi. Que direito tem o usuário de droga legal ou ilegal de me incluir ou me expor numa viagem que não escolhi?

CELSO LAFER - Violência

O século 20, que se prolonga no 21, foi qualificado como era dos extremos. Uma característica do seu extremismo é a generalizada presença e a propagação da violência, cujos efeitos visualizamos no impacto de sua repercussão globalmente difundida pelos meios de comunicação e multiplicada pelo efeito irradiador da era digital. Confrontamo-nos com a onipresença da violência ao tomar conhecimento do que se passa em escala larga e letal na Síria ou, de modo mais circunscrito, com os black blocs, que a inseriram em manifestações de rua até então pacíficas em cidades do Brasil, este ano.

Violência é palavra que provém do latim, tem a sua origem em vis, força, na acepção de tratar com força alguém, ou seja, coagi-lo, configurando uma agressão e um abuso, donde o sentido de violentar. No mundo contemporâneo a extensão da força viu-se multiplicada pela técnica, que a instrumentaliza de maneira extraordinária. Armas de destruição em massa, drones, armamentos mais ou menos sofisticados na ação de criminosos e suas redes - como o Primeiro Comando da Capital (PCC) - ou terroristas de várias vertentes são exemplos de como os implementos da violência estendem seus efeitos.

São múltiplas as proteiformes manifestações de violência, de que são exemplos a racial, a sexual, a xenófoba, a urbana e a rural, a tortura, a proveniente de fundamentalismos religiosos e políticos. Há a violência passional, impulsiva, mobilizada por medo ou ódio; e a violência calculadora, alimentada pela hostilidade, mas que racionaliza a ação para torná-la mais eficaz. É por esse motivo, dada a presença da violência no correr da História, que existem distintas reflexões que buscam explicá-la como sendo fruto da natureza humana, da ignorância, da luta de classes, do rancor, da revolta contra a injustiça, a corrupção, a hipocrisia.

A generalização da violência na era dos extremos converge com visões e perspectivas que a glorificam e a justificam como liberadora e regeneradora. O fascismo, ao se contrapor à democracia e ao papel do diálogo na vida política, exaltou-a e sustentou os méritos do belicismo. Na esquerda, a clássica diferença entre reformistas e revolucionários é a de que aqueles se norteiam pela mudança por meios pacíficos e estes se guiam pela aceitação e afirmação da violência revolucionária como caminho para mudanças, tendo em vista, na lição de Marx, que a violência é a parteira da História.

A violência, individual ou coletiva, no seu exercício estabelece, como aponta Sergio Cotta, uma diferença radical entre o violento e os outros, que se tornam objeto de uma despersonalização impeditiva da coexistência, cabendo apontar que é da natureza da violência não se sujeitar aos parâmetros das normas e da proporcionalidade que caracterizam o Estado de Direito. Com efeito, a violência, por princípio, decepa qualquer possibilidade de diálogo e se contrapõe às regras do Direito que pressupõem a igualdade perante a lei e a imparcialidade do julgamento. Por isso a prática da violência fere a dignidade da pessoa humana e se opõe à democracia, que postula a importância da comunicação e dos debates que fazem a mediação das diferenças na busca de um curso comum da ação.

A crítica implacável da democracia, de suas normas e seus valores caracteriza a obra de Carl Schmitt, pensador e jurista alemão de indiscutível, porém controvertida originalidade, que foi um dos coveiros da República de Weimar e integrou os quadros do nazismo. Ele se dedicou a rejeitar o papel das normas jurídicas e éticas na compreensão do que é a política. Postulou a sua autonomia, afirmando que a sua singularidade é dada pela clareza da distinção amigo/inimigo. O inimigo, para Schmitt, uma noção pública, é quem nega, na situação concreta, o modo de vida do seu oponente. Por isso deve ser repelido e combatido. A identificação do inimigo é uma decisão existencial não balizada por normas e sempre comporta na sua prática a possibilidade de sua eliminação física, que é inerente à lógica do combate configurado, na obra de Schmitt, pela absolutização da dicotomia amigo/inimigo.

Esse entendimento dicotômico e excludente da autonomia da política estimula a justificação da violência e merece registro porque a obra de Schmitt, com seu brilho satânico, continua fascinando não apenas a direita, mas significativas correntes da esquerda. Essas correntes encontram nos seus argumentos, como aponta Richard Bernstein em livro recente (Violence, 2013), elementos para questionar os méritos do normativismo de inspiração kantiana e do potencial para a convivência coletiva da democracia deliberativa e participativa e o papel da razão na tomada de decisões políticas, defendida, por exemplo, por Habermas.

A reflexão de Hannah Arendt e a diferença que ela estabelece entre poder e violência representam uma válida denegação da postura de Schmitt. É, para ela, um equívoco conceitual e prático fundir poder e violência. A violência não cria poder, destrói poder. Basta ver o que ocorre na Síria.

O poder resulta da capacidade humana de agir em conjunto e do concordar de muitos com um curso comum de ação, o que requer persuasão, palavra e debate, e não a intransitividade despersonalizada da violência. O poder, nesse sentido, é um conceito horizontal sustentado pela liberdade de associação e manifestação, cujo potencial se amplia na era digital por meio das redes e que enseja o empoderamento da cidadania. As instituições políticas são materializações do poder gerado pela ação conjunta, que se deteriora quando perde o lastro do apoio popular.

É por essa razão que a violência não só destrói o poder das instituições, como compromete a geração de poder, o que ocorre quando ela se insere, por exemplo, pela ação destrutiva dos black blocs na dinâmica das manifestações.

MARCELO RUBENS PAIVA - Mentiras que o povo escuta

Pelo artigo 20 da Lei 10.406 de 2002, que dá brechas para que biografados e herdeiros consigam na Justiça impedir a circulação de obras não autorizadas, o leitor não pode ler aquilo que não foi aprovado pelos citados.

Se o artigo atravessasse a fronteira do tempo, Aristóteles teria problemas para publicar a Poética. Herdeiros dos autores de tragédias e comédias citadas iriam processá-lo, para repor danos e repartir ganhos da obra impressa até hoje. Parte da obra de Shakespeare estaria embargada por herdeiros de Júlio César, Marco Antônio, Cleópatra, Ricardo II, III, Henrique IV, V, VI, VIII e membros do reino da Dinamarca, acusado de podre. Marx seria censurado por capitalistas ao expor suas contradições. Nietzsche, por zoroástricos e monoteístas, por afirmar que Ele morreu. Aliás, o Novo Testamento poderia ser questionado pelas famílias Iscariotes, Pilatos e Antipas, se a Galileia seguisse as leis brasileiras atuais. Freud enfrentaria um processo dos herdeiros de Sófocles por denegrir a imagem do protagonista da sua peça mais conhecida, Édipo Rei, e utilizar em vão e sem autorização os conflitos dramáticos, com alusões fantasiosas e nada empíricas.

Obras como Guerra e Paz, O Vermelho e o Negro, Os Sertões, O Velho e o Mar não sairiam do papel, já que retratam personagens reais. Autores como Gore Vidal e Tom Wolfe não existiriam. Apenas a absoluta ficção, invenção plena livre de influências e inspiração, sem dados ou conexões com a realidade, seja lá qual for, seria permitida. O problema é que ela não existe.

Cercear a liberdade de expressão, agredida desde a nossa fundação, por regimes monárquicos, republicanos, algumas ditaduras e até um parlamentarismo provisório, é traumático. A instabilidade política é um sintoma do cerceamento.

Proibir a publicação de biografias não autorizadas é, sim, censura. Paternalizamos o leitor, protegemos, como uma frágil criatura. Duvidamos da capacidade de duvidar. Duvidamos da capacidade de discernir a verdade do boato, o fato da infâmia.

A mentira é também parte da democracia. Conviver com ela amadurece um povo. Saber enfrentá-la o torna forte. Desconfiar do que se lê e escuta nos faz cidadãos. E já escutamos cada barbaridade...

Já disseram que Dilma, terrorista, assaltou bancos, atentou contra o patrimônio, para implantar um regime facínora que cometeu mais atrocidades que o nazista. Usava os codinomes Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda. O delegado Newton Fernandes afirmava que era uma das molas mestras dos esquemas revolucionários. Um promotor a chamou de "Joana d'Arc da subversão". Foi eleita.

Que Lula, preguiçoso, amputou o próprio dedo numa prensa da Ford, para uma licença médica que deu a oportunidade de se aposentar ainda jovem e se engajar num corrupto movimento sindical que, se aproveitando da crise da indústria automobilística, mobilizou uma massa apolítica. Fundou um partido e governou o País com negociatas, como se estivesse numa saleta do sindicado de São Bernardo. Comprou um Airbus folheado a ouro, cujas fotos rodaram pela internet. Foi eleito e reeleito.

FHC, sedutor incorrigível, teve um filho fora do casamento com uma jornalista da Globo, que o serviço secreto transferiu para Portugal, fato que a imprensa submissa e aliada ao PSDB escondeu durante a campanha para presidência. Foi eleito e reeleito.

Tancredo sofreu um atentado. A jornalista Gloria Maria testemunhou e passou uma temporada na geladeira. Collor de Mello descobriu a infidelidade da mulher, pois ela anunciou estar grávida sem saber que o marido fizera uma vasectomia. Membros do clã Sarney são os maiores plantadores de maconha do Maranhão. Aécio Neves tem problemas com álcool. Luis Eduardo Magalhães tinha com cocaína. Serra não dorme e tem inúmeras contas anônimas nas redes sociais. Passa o dia pedindo a cabeça de jornalistas que o criticam. Todos eleitos e reeleitos pelo voto direto.

Curiosamente, o Projeto de Lei 3378/08, que modifica o artigo da Lei 10.406, é de autoria do deputado Antonio Palocci (PT-SP) e defendido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Martins, do partido acusado de planejar bolivarianamente o controle da imprensa.

Quem já não ouviu uma dessas "verdades absolutas", espalhadas por pessoas que dizem ter escutado de uma fonte confiável, de alguém de dentro do sistema? Tem gente que jura de pé junto que o 11 de setembro foi armado e que o homem não pousou na Lua.

Homossexual? Muitos escondem. Raí se mudou para a casa do apresentador Zeca Camargo. Logo logo, assumirão a relação. Adotarão um filho? Aids? Milton Nascimento e Ney Matogrosso têm, segundo uma revista extinta da maior editora do País. Que já afirmou que fui "meio" viciado em cocaína, quando eu apresentava um programa para adolescentes, cujo blogueiro tem certeza de que pertenço à facção criminosa dos Petralhas, apesar de muitos tuiteiros me acusarem de vendido, já que me filiei ao PIG, Partido da Imprensa Governista, para quem trabalho há décadas, o que envergonharia meu pai. Leitores do mesmo blogueiro dizem que na verdade sou um coitado maconheiro que bateu a cabeça numa pedra e, além de paraplégico, fiquei xarope.

Raí nem conhece Zeca Camargo e processa a jornalista que divulgou. O DNA do tal filho de FHC, cuja foto uma revista independente colocou na capa, e se vangloriou de ser o único órgão de imprensa a ter coragem de expor escandalosa revelação, não bateu com o do suposto pai. Dilma nunca participou de uma ação armada. O Aerolula em ouro era na verdade o avião de um magnata do petróleo. Milton e Ney estão vivos e saudáveis. E processaram os que mentiram sobre eles. Elas não sumirão por decreto. Enquanto isso, o Brasil nunca viveu um período de estabilidade política como o de agora.

Não é preciso pôr em dúvida e proibir o exercício literário por causa de alguns. Seria como burocratizar o pensamento, tornar o mundo liso como uma poça de lama. Não é assim que funcionamos. Somos bem mais complexos. Sobrevivemos a mentiras e infâmias. Nos fortalecemos com elas. Melhor deixar a expressão livre, nos ensina a história. Não sobrevivemos é sem liberdade.


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MARTHA MEDEIROS - Quando a fila não anda

As duas chegaram na minha frente rindo muito, felizes da vida. Eu, sentada atrás de uma mesa, tirei conclusões apressadas: são irmãs, são amigas de infância, são colegas de trabalho, talvez até namoradas. Autografei o livro para uma, autografei depois o da outra, que eu estava ali a trabalho. E elas se cutucavam, cochichavam, tiravam fotos juntas, não se desgrudavam.

Me surpreendi com aquela alegria tão refrescante, já que o óbvio seria encontrá-las esmorecidas, ambas estavam há mais de uma hora numa fila que andava a passos lentos. A morosidade não era culpa minha, e sim da situação, mas mesmo assim me desculpei e agradeci: obrigada por esperarem tanto. Imagina, em que outro local teria conhecido aqui a Adriana? Filas são ótimas para fazermos novas amizades. E saíram as duas rumo ao primeiro chope de suas vidas agora interlaçadas.

E já que tudo está interlaçado, no dia seguinte mesmo recebi um e-mail com uma sugestão de texto de uma senhora que não era nenhuma daquelas duas moças, mas que também havia feito uma amizade em uma fila: “Escreva sobre essa conspiração do destino: pessoas que se conhecem enquanto aguardam ser atendidas”.

Eis-me aqui cumprindo ordens.

Não odeio filas porque não odeio nada, mas não é um acontecimento pelo qual eu anseie. Fila, para mim, é a representação máxima da perda de tempo, e tempo é algo que valorizo mais do que pérolas, jades, rubis. Não escapo de enfrentá-las em bancos, cinemas e em sessões de autógrafos de amigos escritores, mas não recordo de ter feito alguma nova amizade durante a espera. Ou fiz?

Sim, conversa-se em filas. Ainda mais se a fila for demorada e provocar queixas: dois irritados é o começo de uma rebelião. Tem uma rede de supermercado na cidade que me deixa com os nervos destruídos, quase já não a frequento, só em raríssimas ocasiões para comprar dois ou três itens urgentes, e mesmo assim ele desafia meu espírito budista com seus poucos caixas abertos, seus funcionários mal treinados, seus carrinhos abandonados no estacionamento, suas sacolas plásticas que não resistem até a chegada em casa. Nem mesmo o cartaz avisando que agora existe um gerente (virtual) adianta grande coisa. Então, na inevitável fila que se forma, viramos todos clientes guerrilheiros a fim de ver sangue. Não inauguramos ali amizades fraternas, mas ter uma raiva em comum já é um elo.

Desviei do assunto. Era para eu ter falado de pessoas que se tornam amigas de infância durante uma conversa em pé, aguardando pacientemente para realizar sua meta. Conclusão? Até das chatices se pode tirar algum proveito. As filas tornaram-se o novo bar – em frente dos quais, aliás, elas se formam também, longas, animadas, fervilhantes, não raro sendo a principal razão de se ter saído de casa.

ZUENIR VENTURA - Viver cada segundo

Ele costumava brincar dizendo que preferia 
alguémsem caráter do que sem humor’, 
conta Gilda Mattoso sobre Vinicius

O Museu da Imagem e do Som promoveu esta semana o seminário “Vinicius centenário”, reunindo durante um dia, em três mesas, 13 pessoas que tiveram alguma ligação com o homenageado ou com sua obra. Só assim pôde contemplar os vários aspectos dessa figura plural — tão plural que o cronista Sérgio Porto apresentava como “prova” o fato de que, se ele fosse apenas um, não se chamaria Vinicius de Moraes, mas de Moral. Os debates abordaram Vinicius como poeta, como músico e como homem do mundo. Participei desta última como mediador dos convidados Miguel Faria Jr, autor do magnífico documentário sobre o amigo; Marcos Azambuja, diplomata como seu colega de Itamarati, com quem conviveu em Paris; e Gilda Mattoso, a última paixão do poeta. 

O que ficou de melhor desse convívio? Se pudessem resumir, coisa impossível, o que ainda sentem em relação a um personagem tão rico, os três convergiriam para um ponto comum: a irrestrita admiração. Gilda destaca do ex-marido a generosidade e o bom humor: “Ele costumava brincar dizendo que preferia alguém sem caráter do que sem humor.” Miguel, que foi casado com Susana de Moraes, ressalta no ex-sogro a capacidade de se reinventar: “E, sempre patrulhado, eram transformações sofridas.” 

A Azambuja, o que mais impressionava era a modéstia com que Vinicius procurava se mostrar menor do que era: “Ele camuflava sua cultura.” Isso ajudava a alimentar uma certa visão folclórica que fazia do poetinha um poeta menor, ele que é um dos mais refinados sonetistas da língua poética de Camões.

Sua aventura existencial foi tão excitante, com suas libações etílicas, seu desprezo à solenidade, sua ampla liberdade sentimental, seus nove casamentos e sua renovada disposição de se apaixonar, que não raro fez sombra à sua arte. Carlos Drummond de Andrade me confessou numa entrevista de 1980 que invejava no colega a independência de espírito e a falta de compromisso com as convenções sociais: “Ele fazia o que queria e sempre com aquela doçura, aquela capacidade de encantar que fazia com que as donas de casa mais severas o adorassem.”

De fato, além das lições de poesia e de música, ficaram dele as de vida, do carpe diem, do aqui e agora. Seu ensinamento está contido em três versos:

“E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo.”

Houve quem não tivesse entendido o que publiquei na coluna passada, quando afirmei que a polêmica das biografias já tinha dado o que tinha que dar, e que agora era esperar a decisão da Justiça. O que eu quis dizer é que nessa altura, com tanta polarização, ninguém convence ninguém que já não esteja convencido, mesmo os mais próximos. Será que Ana de Holanda convencerá o irmão Chico a mudar de posição, com o argumento de que afinal seu pai — o pai dos dois — era historiador?

NELSON MOTTA - Vingança pornô

Já passou o tempo em que a vingança 
era um prato para ser comido frio, 
hoje come-se on line

Um dos efeitos mais dramáticos da era da informação é o fim da privacidade, que para uns é uma desgraça, e outros, felicidade. Hoje qualquer um pode ter seu próprio jornal, sua rádio e seu canal de televisão on line, nunca os exibicionistas tiveram tantos meios para se mostrar, nem os maledicentes para expressar seus piores sentimentos, nem os pesquisadores e historiadores para ter acesso a informações preciosas para toda a sociedade.

Nunca na história desse planeta o ser humano pôde revelar tanto o seu melhor, e o seu pior, para tantos, em todos os lugares, ao mesmo tempo. E está só começando.

Uma das piores novidades nos Estados Unidos é a onda de namorados, maridos e amantes abandonados que postam fotos e vídeos íntimos de suas ex-amadas em sites como o You Got Posted, que logo são fechados, mas o estrago já está feito, as imagens já caíram na rede, empregos e amizades foram destruídos, algumas vítimas chegam a mudar de cidade e até de nome.

Mas os advogados de defesa alegam que as imagens foram feitas voluntariamente e culpam as vítimas, que raramente conseguem na Justiça uma indenização por danos morais.

Entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, os legisladores, as delegacias de crimes cibernéticos e os tribunais americanos ainda não sabem como lidar com a canalhice digital, mas enquanto uma nova lei não vem, as mulheres estão reagindo com as mesmas armas e expondo na rede as deficiências dos ex-amados que as traíram. Já passou o tempo em que a vingança era um prato para ser comido frio, hoje come-se on line.

Novos sites de vingança abrem e fecham todo dia e têm cada vez mais audiência, pelo prazer perverso de ver pessoas comuns expostas e humilhadas. Na sociedade do espetáculo, agora é só uma questão de tempo para um seriado de TV, ou um filme de um mestre das vinganças como Tarantino, ou uma comédia politicamente incorreta de Larry David.

Só me resta recomendar a minhas filhas e netas que evitem fotos e vídeos peladas, porque ao contrário do amor, que é eterno só enquanto dura, suas imagens ficam para sempre no cyberespaço das misérias humanas.

PEDRO DORIA - A pornografia da vingança

Quem não quer biografias está certo num ponto: 
privacidade se tornou um problema novo e bastante sério

Ela se chama Fran. Tem 19 anos, mora em Goiânia. Trabalha como vendedora em uma loja de roupas. No início de outubro, um ex-namorado levou à rede, por vingança, um vídeo. Não é apenas explícito pelo que mostra. É ainda mais explícito no que revela: uma moça feliz. Encantada com seu parceiro.
Entregue. A pornografia é seca e fingida. Ali, não. É pessoal, íntimo, dolorosamente real. 
Aguentar o baque de uma exposição pública deste nível é para poucos. Força para Fran. Ela precisará.

Há um ponto, na discussão sobre biografias, em que os defensores da censura acertam, uns mais, outros menos. A questão da privacidade está ficando mais importante. Os mais ameaçados, porém, não são as estrelas da cultura, política ou esportes cujas vidas há décadas sob holofotes despertam interesse público. Os mais ameaçados somos todos nós e livros não são os vilões do caso. É a nova tecnologia da informação. A mesma tecnologia que permite a um lavrador no interior da África ter acesso, via celular, a dados sobre clima que permitem planejar sua horta, também permite o assassinato de reputações. É muito fácil filmar, fotografar e distribuir.

No início do mês, a Califórnia fez publicar uma das primeiras leis do mundo específicas contra o que chamam de “Revenge Porn”. A pornografia da vingança. É uma lei fraca que só proíbe a disseminação de imagens por quem as capturou. Se a moça tirar um autoretrato e enviá-lo para o rapaz, não vale. Em novembro passado, a presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei que altera o decreto 2.848 de 1940. É a Lei Carolina Dieckmann. Pune quem pega sem permissão dados do computador de outro, pune mais quem após pegar distribuir tal informação. Pega hackers e técnicos que metem o bedelho nas máquinas que consertam mas não atinge ex-namorados.

Não é o único problema que surge com a internet para o qual não há leis perfeitas. Mas é possivelmente um dos mais graves embora receba menos atenção.

Quando um artista famoso é atingido na intimidade, sua dor é ouvida. Mas isso é raro de ocorrer. Em geral, as vítimas são anônimas. As imagens circulam, rendem comentários os mais agressivos, ficam na rede para sempre. Quem as viu num mês, esquece. As vítimas têm o resto da vida para lidar com aquilo. Estão sempre a um Google de distância. Uma das moças que sofreu com isso, nos EUA, mudou o nome legalmente para fugir do legado. Aí alguém ligou seu novo nome às antigas imagens. Não há fuga.

Os problemas de privacidade violada na web não se limitam ao sexo filmado e posteriormente distribuído por vingança ou só maldade. Informação sobre saúde entra na conta. Dívidas. Brigas passadas. Fotografias da juventude. Às vezes é uma vergonha pequena, às vezes chega no limite da dor que Fran deve estar sentindo. Não é apenas uma lei para lidar com todos os casos que não temos. É também uma etiqueta. Uma convicção, por parte de todos, de que certas coisas não deveriam ser feitas. O mundo mudou, não estamos preparados ainda para lidar com todos os novos problemas.

Quando o celular da atriz Scarlett Johansson foi hackeado e suas fotos tornadas públicas, inúmeros usuários da web se fotografaram imitando a pose. Se expuseram por solidariedade. No caso de Fran, em um momento do vídeo ela faz com a mão o gesto de OK. Tem muita gente por aí se fotografando com o mesmo gesto. Solidariedade é ainda o que nos salva.

IVAN MARTINS - Entre os olhos e o coração

Mentir a aparência na internet
 afasta no mundo real

Em tempos de internet e redes sociais estamos fadados a nos envolver com desconhecidos. O garoto acha bonita a foto da garota no Twitter e faz um elogio. Pronto. A mulher gosta das palavras do homem no Facebook e curte. Começou. Um não sabe nada sobre outro, mas, rapidamente, dois estranhos se tornam íntimos. Às vezes, apaixonadamente. Então acontecem os problemas.

Outro dia, me contaram uma história triste de desencontro digital.

Uma moça conheceu um rapaz pela internet e se encantou pela conversa dele. Passaram a se falar por telefone e o entusiasmo cresceu. Finalmente, marcaram um encontro, e aí se deu o desastre: ele não era como na foto. Apesar de sentir-se culpada e até mesmo envergonhada, ela não conseguiu superar a decepção. Reconhecia o rapaz que a fascinara quando ele falava, mas não conseguia sentir o que sentira antes de vê-lo. Os olhos falaram mais alto que o coração.

O manual de conduta moral recomenda que, nessas ocasiões, a gente critique a moça que julga as pessoas pela aparência e não é capaz de reconhecer um homem interessante por trás de um rosto menos atraente. Mas eu, pessoalmente, não farei isso. Acho que só poderia julgá-la com rispidez quem nunca se deixou atrair (ou repelir) pela aparência dos outros. Quantos de nós somos capazes de observar apenas a personalidade das pessoas que nos cercam, sem se importar com a beleza ou a feiúra delas? Bem poucos, eu suponho.

Entre os homens, a decisão baseada em beleza é regra, não exceção. Ouvi falar de caras que marcam encontros pela internet e, antes de se aproximar, espiam de longe para ter certeza de que a moça é mesmo bonita como imaginavam. Se não for, vão embora e telefonam desmarcando, com uma desculpa qualquer. Talvez mulheres façam o mesmo. Ninguém quer ser “passado para trás” nesse tipo de situação.

Acho que esses desencontros evidenciam dois tipos de problemas.
O primeiro, antigo como a espécie humana, mas piorando acentuadamente, diz respeito aos nossos valores. Somos, cada vez mais, um bando de idiotas que julga a si mesmo e aos outros pela simetria facial, a circunferência da cintura e a rigidez dos glúteos. Essa não é a receita da felicidade universal, nem mesmo a fórmula para uma vida mentalmente saudável. Há sociedades mais modernas e bem-sucedidas que a nossa em que a aparência é um aspecto menos importante das relações interpessoais. Gente bonita leva vantagem em qualquer parte do mundo, mas isso não significa que pessoas comuns sejam discriminadas. Ou discriminem a si mesmas, o que é ainda pior.
O outro problema é a internet e os engodos que ela propicia.

Nas redes sociais e sites de relacionamentos todo mundo é lindo. As fotos são escolhidas com esmero, ou meticulosamente photoshopadas para impressionar e seduzir. O truque funciona. Qualquer foto sexy e bonita faz crescer o número de amigos e seguidores nas redes sociais. O problema é que o objetivo final dessa publicidade enganosa é um encontro frente a frente. De que adianta colocar fotos de tirar o fôlego na internet e aparecer depois, pessoalmente, com a carinha sem graça que Deus lhe deu? O desapontamento que isso provoca é devastador.

No mundo real, quando uma pessoa sem atrativos se aproxima para conversar, a expectativa que ela provoca é baixa. Mas o grau de interesse do outro sobe rapidamente de acordo com a qualidade do papo e a empatia que ele produz. A atenção cresce à medida que se manifestam o humor, o charme e a personalidade. Pode acontecer que em meia hora ou em duas semanas a outra pessoa esteja totalmente seduzida. Todos conhecem esse tipo de história. Acontece o tempo todo.

Com o encontro antecedido de fraude na internet ocorre o contrário. O interesse do outro começa lá em cima, em 100, mas, assim que a pessoa se mostra de verdade, como realmente é, ele vai caindo para 70, 60, 40... É difícil conter uma derrocada dessas. O desapontamento e a sensação de logro são muito fortes. Quem esperava pela beleza não aceita receber outra mercadoria. Sente-se injustiçado.

Se eu pudesse mudar as coisas num passe de mágica, faria com que nós, todos nós, fôssemos menos preocupados com a aparência. Quando se trata de relacionamentos, ela, sabidamente, não nos leva além da página 2. É apenas um bom começo. Se não houver outras razões para atrair interesse, o fascínio da beleza evapora como éter – deixando no ar um cheirinho enjoativo.

Como eu não acho que a obsessão coletiva com a beleza vá desaparecer tão cedo do nosso meio, recomendo respeitá-la. Não tente se fingir de galã na internet se você não é. Não tente parecer uma gata sedutora se não for o caso. Uma foto boa, mas honesta, e intervenções online inteligentes, podem levar mais longe. Outra coisa importante e que precisa ser lembrada: cada um de nós é mais bonito do que imagina ser.

A história que abre esta coluna é verdadeira e sugere que enganar as pessoas na internet não é uma alternativa se você pretende aproximar-se delas. Melhor mostrar-se como é, ainda que não pareça o Brad Pitty ou a Halle Barry. Assim, quando estiver frente a frente com a pessoa que seduziu à distância, a impressão só tende a melhorar. 

Com sorte, logo no primeiro encontro você passará da página 2 e entrará no território da sensibilidade e dos sentimentos. Nesse terreno, graça, caráter e sensualidade conduzem o processo. E a aparência conta muito menos. Para a sorte de todos nós.  

MARCOS SACRAMENTO - Os lábios que não beijei

Nostalgia. Esta palavra às vezes soa feia, dolorosa. Odeio sentir nostalgia, querer incondicionalmente que um momento no tempo e no espaço se repita; pior, não apenas se repita como tenha um desfecho diferente do ocorrido na realidade. Senti nostalgia por causa de uma ragazza que tentei beijar numa boate, numa sexta-feira de inverno no hemisfério norte.

Eu já estava na boate quando ela chegou. Estrategista, esperei que ela entrasse no clima antes de abordá-la. Havia observado-a durante a semana e me interessado pelo corte de cabelo meio punk que usava. Negros, curtos e com parte da lateral raspada. Cabelo de quem tem algo a dizer. Falei isso pra ela durante o flerte. Ela deve ter gostado, porque começamos a dançar juntos. Cheek to cheek …

Afoito, tentei beijá-la. Ela desviava os lábios, recusava bebida, mas continuava a me abraçar. Margarida era o nome dela. Margarida, eu dizia, imitando a entonação italiana. Marco, respondia ela, ignorando a letra S a pedido meu.

Por várias vezes tirou a bebida das minhas mãos. Por um momento falei que por ela não beberia nunca mais. Falou que não trabalhava na Itália, e disse sim quando a chamei para morar comigo no Brasil. Acariciava minhas costas, meu cabelo, mas continuava a evitar meus lábios. Elogiei seus olhos, seu cabelo exótico, seu nome. Ela me mostrou algumas das suas oito tatuagens, explicou o significado de duas delas e perguntou se eu tinha alguma. Respondi que tatuaria o nome “Margarida”. Ela, claro, não acreditou e repetiu a frase que me dizia desde o início do contato: “you are a badboy”. Nunca uma frase simples com pronúncia elementar havia soado tão bonita. “You are a lier, you are a badboy”, dizia ela, com um apaixonante sotaque italiano. Eu respondia em italiano pré-elementar porém sincero e apaixonado: “piu bella ragazza”.

Margarida perguntou minha idade e disse que faz pilates e yoga. Perguntei se ela casaria comigo. Ela aceitaria, mas sem filhos. Concordamos em ter um cachorro. Nos abraçamos, meus dedos se perderam em seus cabelos, mas os lábios não se tocaram. Ela sabia que aquela era minha penúltima noite por ali e dentro de dois dias eu embarcaria de volta ao Brasil. Passou para mim o número do seu telefone e pediu que eu ligasse ou mandasse mensagem no dia seguinte. Fomos embora juntos e rachamos um táxi. No outro dia mandei uma mensagem, sem resposta. Mais tarde, telefonei e não fui atendido. 

No dia seguinte, já com as malas fechadas, resolvi mandar outra mensagem de texto para ela. Só para que ela lembrasse de mim. Escrevi uma breve despedida e o trecho da música de uma banda dos anos 90, Semisonic. O trecho falava de um sorriso secreto que ela teria só para mim. Não esperava resposta, apenas que ela visse a mensagem e se lembrasse, por alguns minutos, da noite que passamos juntos.

Para o meu azar, ela respondeu. Com um verso adaptado da música “We Are Young”, desejou-me boa viagem e escreveu que iria sorrir para mim. Golpe baixo. Voei horas pensando nela. Fiquei aguardando a conexão com a italianinha de cabelo punk na cabeça, torcendo para que ao voltar ao Brasil ela fosse apenas uma recordação distante.

De volta pra casa, recuperando-me da jet lag, fui resolver questões inadiáveis do cotidiano. Para mim, o trabalho é um bom antídoto para curar síndrome do coração partido e certamente uma série de obrigações enfraqueceria a presença da ragazza na minha mente. 

A possibilidade de esquecer da italiana que não beijei me motivava a empreender essas atividades ordinárias. Parecia funcionar. Ações como desfazer as malas, separar roupas para lavar e pagar contas ofuscaram a presença da moça em minhas lembranças. Já me considerava curado quando fui verificar meu saldo bancário pela internet. 

Ao acessar, descobri que tinha uma nova gerente de relacionamento. O nome dela: Margarida…

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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